Título: Ramos-Horta vence eleição no Timor Leste
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Fonte: O Globo, 11/05/2007, O Mundo, p. 35

Com 90% das urnas apuradas, prêmio Nobel da Paz lidera segundo turno com 73% dos votos sobre Guterres.

DÍLI. O prêmio Nobel da Paz José Ramos-Horta venceu o segundo turno das eleições presidenciais de Timor Leste com ampla vantagem. Com 90% das urnas apuradas, o atual primeiro-ministro tinha 73% dos votos. Os resultados ainda serão verificados, segundo a Comissão Eleitoral Nacional, mas a grande diferença torna impossível uma recuperação do adversário, Francisco Lu-Olo Guterres, da Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin). Ramos-Horta terá como desafio unir um país dividido, desestabilizado pela violência e pela pobreza.

¿ Serão cinco anos de trabalho duro. Farei o possível para não trair aqueles que votaram em mim e para não perder sua confiança ¿ disse o candidato independente.

Dúvidas sobre a posição que a Fretilin adotará

Estima-se que o resultado oficial seja conhecido hoje. Guterres, um ex-guerrilheiro independentista que se tornou presidente do Parlamento, prometera na quarta-feira respeitar o resultado. Mas alguns especialistas acreditam que a Fretilin terá dificuldades em aceitar a derrota. O partido foi acusado de recorrer à chantagem, pressionando eleitores do interior a votarem em seu candidato.

¿ Há sinais contraditórios se a Fretilin aceitará de bom grado um fracasso ¿ disse Damien Kingsbury, especialista da Universidade de Deakin, Austrália.

Ramos-Horta, visto como um sucessor natural do presidente Xanana Gusmão, tenta antecipar-se a uma eventual crise:

¿ Trabalharei com a Fretilin e me assegurarei de que seus líderes não se sintam derrotados ¿ afirmou.

Os timorenses votaram anteontem no segundo turno das primeiras eleições presidenciais desde a independência, em 2002. Após o primeiro turno, em abril, em que houve acusações de manipulação e intimidação, a ONU se disse satisfeita com o bom desenvolvimento do segundo turno.

¿ O Timor Leste amadurece como democracia ¿ declarou Atul Khare, representante das Nações Unidas.

A derrota de Guterres reflete o desgaste da Fretilin, dizem analistas. O partido, que ocupa 55 das 88 cadeiras do Parlamento, desgastou-se, mas ainda é respeitado por sua história de luta contra a ocupação indonésia, de 1975 a 1999, após a saída dos portugueses.

Ramos-Horta, que liderou uma campanha internacional pela independência do Timor Leste, prometeu resolver a questão dos refugiados.

Uma onda de violência eclodiu no ano passado, após um motim de 600 militares na região oeste do país, levando muitos timorenses a abandonarem suas casas. Trinta mil pessoas ainda permanecem em campos de refugiados.

Ramos-Horta vê com simpatia o Ocidente e a globalização econômica, enquanto Guterres e a Fretilin são mais de esquerda e nacionalistas. O Timor Leste é rico em recursos energéticos, como gás natural, mas ainda começa a explorá-los. As eleições legislativas serão em 30 de junho e acredita-se que Xanana concorra ao posto de premier.