Título: Cobrança da fatura
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 12/05/2007, O Globo, p. 2

A primeira rebelião do PMDB foi identificada e abortada a tempo pelo governo. Anteontem à noite, o presidente Lula chamou os ministros do partido ao Planalto para cobrar a disciplina da bancada, prometida quando eles se assumiram os cargos. Ao mesmo tempo, decidiu acelerar as mudanças no segundo escalão, mantendo a exigência de afinidade entre o indicado e o cargo.

O sinal de estouro na bancada peemedebista foi registrado pela coluna de ontem. A análise da planilha de votação da emenda que aumenta os repasses para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) não deixava dúvida. Para rejeitar um destaque da oposição, o governo precisava de 308 votos. Venceu, mas raspando na trave, com 317 votos. O destaque obrigava o governo a pagar mensalmente, e não cumulativamente, em dezembro, o resultado da elevação do FPM em um ponto percentual. Embora a oposição não tenha mais que 130 votos, em votação de destaques de emendas constitucionais o proponente da emenda, no caso o governo, é que precisa reunir o quórum qualificado de três quintos de votos, ou 308. A coalizão governista tem quase 400 votos, mas muitos peemedebistas abandonaram o plenário. Boa parte da bancada do Rio, empenhada na nomeação de Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas.

Percebeu o governo o perigo de a pirraça se repetir na terça-feira próxima, quando será votado outro destaque, este antecipando o início da vigência do aumento (de agosto, como expresso na emenda, para maio, ou janeiro, a depender da interpretação). Cada duodécimo custará ao Tesouro R$150 milhões.

Na conversa com os cinco ministros, Lula não fez diferença entre os novos e os que já estavam no governo. Ao grupo, disse que era deles a obrigação de manter a bancada coesa, oferecendo sempre a maioria dos votos ao governo. Foi para ter maioria folgada, e não para passar aperto, que montara uma coalizão e entregara boa parte do governo ao PMDB.

Eles teriam concordado, prometido vigilância, acrescentando, porém, que a demora nas nomeações vem estressando a bancada. E isso é fato.

O governo está alegando agora que alguns dos indicados, inclusive Conde, não têm intimidade com as áreas que iriam dirigir. Mas essas indicações foram feitas há algumas semanas. Naquele momento é que o governo deveria ter apresentado suas restrições, pedindo a substituição do nome que não lhe agradou. De todo modo, Lula foi rápido no gatilho, evitando a primeira traição do PMDB, que pinta e borda com governos que apóia desde Fernando Henrique. Nada indica que, por ter agora cinco ministérios, o partido vá abdicar da prática peculiar de arrancar favores negando o voto, e que está na base de sua sobrevivência como grande partido, embora nunca tenha eleito um presidente depois da transição.