Título: O eterno medo de quem denunciou os sanguessugas
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 13/05/2007, O País, p. 9

Servidores, que vivem em Rondônia, são ameaçados até hoje.

BRASÍLIA. Um ano depois do estouro do escândalo dos sanguessugas, os dois servidores públicos responsáveis pela denúncia que deu origem a investigação em Rondônia, onde o esquema da família Vedoin atuou, ainda convivem com perseguições, ameaças e privação de liberdade. O esquema levou ao Conselho de Ética da Câmara 69 deputados, acusados de negociar emendas parlamentares para compra de ambulância em troca de propina. Mas também mudou a vida de dos denunciantes.

Edson Raimundo Pereira, de 49 anos, é presidente do Conselho Municipal de Saúde de Pimenta Bueno, a 500 quilômetros de Porto Velho. Ele é educador do Sistema Único de Saúde (SUS) e faz palestras em escolas, comunidades e outros locais. Desde que fez a denúncia das ambulâncias, começou a ser ameaçado. Uma vez, dando palestra em Palmas, em Tocantins, recebeu um telefonema o ameaçando. Edson teve que sair escoltado por carros da Polícia Militar. Em Rondônia, foi cercado por homens encapuzados, que estavam numa moto sem placa:

- Vê se cala a boca, se não quem vai sofrer são pessoas que você ama - disseram a ele, cujo filho, de 21 anos, também foi abordado por homens encapuzados, que tiraram a roupa do rapaz.

"Não entendíamos por que tantas ambulâncias"

Raimundo Nonato Soares, que também denunciou o esquema em Rondônia, vive em Porto Velho. Ele é integrante do Conselho Estadual de Saúde e, durante algum tempo, não pôde sair à noite. Até hoje recebe, telefonemas anônimos com ameaças. Ele chegou a registrar boletim de ocorrência numa delegacia. Raimundo conta como ele e Edson desconfiaram do esquema.

- Não entendíamos por que tantas ambulâncias no nosso estado. Nem sempre era a prioridade. As emendas de deputados deveriam ser usadas com mais racionalidade, senão acaba virando instrumento de corrupção - diz Raimundo.

Os dois servidores desconfiaram do esquema e acionaram o Ministério Público, que iniciou as investigações. A Controladoria Geral da União (CGU) também investigou e confirmou as suspeitas.

O maior beneficiário do esquema dos sanguessugas em Rondônia foi o ex-deputado federal Nilton Capixaba (PTB), acusado de ter faturado R$3 milhões na fraude. Ele seria candidato ao Senado e, com as denúncias, sequer conseguiu se reeleger. Seu reduto eleitoral em Rondônia é no interior do estado, em Pimenta Bueno e Cacoal, onde a empresa Planam, que pertence aos Vedoin, tem um escritório. Edson e Raimundo evitam até citar o nome de Capixaba, com medo de perseguição.