Título: Chefe do Ministério Público deve ser mantido
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 13/05/2007, O País, p. 9

Procurador-geral da República, cujo mandato de dois anos acaba em julho, tem a simpatia do presidente Lula.

BRASÍLIA. A dois meses do fim do mandato, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, deve ser reconduzido ao cargo para mais dois anos à frente do Ministério Público Federal. Mesmo sendo o autor da denúncia do mensalão, tem a simpatia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Justiça, Tarso Genro. O diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, que chegou a ser convidado para presidir o Ibama, também deve permanecer no cargo por, pelo menos, mais um ano.

A denúncia do mensalão, elaborada a partir de investigações da Polícia Federal, atingiu petistas influentes no primeiro mandado do presidente Lula, entre eles o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e o hoje deputado José Genoino (PT-SP). Isso não abalou o prestígio de Antonio Fernando no Planalto.

- Não há antipatia, nem reserva em relação a ele. Minha opinião pessoal é de que o trabalho dele foi digno e republicano - diz Tarso.

Segundo o ministro, essa opinião é partilhada pelo presidente. Essa é a primeira vez que Tarso trata publicamente do assunto. Como ministro da Justiça, cabe a ele auxiliar o presidente a escolher o chefe do Ministério Público Federal. O mandato do procurador-geral, com duração de dois anos, termina em julho. A partir de então, com base numa lista tríplice preparada pela Associação Nacional de Procuradores da República, o presidente nomeia o procurador-geral. O procurador-geral tem como uma de suas prerrogativas formular denúncias contra os ministros de Estado e até contra o próprio presidente.

Até recentemente, o cenário político parecia amplamente desfavorável a Antonio Fernando. Um grupo de petistas, ligados a colegas acusados no mensalão, trabalhava nos bastidores contra a permanência dele no cargo.

Associação de procuradores apóia permanência

Antonio Fernando denunciou o grupo envolvido no chamado mensalão como "organização criminosa" e deu um parecer favorável à criação da CPI do Apagão. Mas as medidas amargas não reduziram o seu cacife.

- O trabalho dele não tem inflexão partidária e nem cria crises artificiais - diz Tarso.

Outros interlocutores do presidente têm explicações complementares para a possível recondução. Segundo um deles, o procurador-geral ampliou sua liderança e imprimiu um novo modelo de atuação do Ministério Público, menos barulhento e mais eficiente. O nome de Antonio Fernando conta também com o apoio do novo presidente da ANPR, Antônio Carlos Bigonha.

- A administração dele na procuradoria é muito bem avaliada - afirma Bigonha.

Lacerda, que chegou a anunciar sua saída da Polícia Federal no fim do ano passado, deve permanecer. No início deste ano, estava praticamente certo que seria substituído pelo diretor de Inteligência da corporação, Renato da Porciúncula. Mas o anúncio da possível saída de Lacerda desencadeou uma guerra interna de conseqüências imprevisíveis. Tarso Genro mudou de estratégia e convidou Lacerda a permanecer no cargo por tempo indeterminado.