Título: O desafio de refomas
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 13/05/2007, O Mundo, p. 33

LONDRES. A menção da expressão ¿Novo Trabalhismo¿ traz imediatamente à cabeça o largo sorriso de Blair, mas muito do sucesso da mudança de sorte do partido se deve à atuação de Gordon Brown. Ao lado de Blair, ele era uma das promessas da legenda, em 1994, quando o posto de líder ficou vago pela morte repentina do então ocupante, John Smith. Reza a lenda que Brown aceitou ocupar um papel de coadjuvante em troca do comando da política econômica de um eventual novo governo.

Sua atuação na pasta das Finanças é tida pelos britânicos como mola-mestra para o sucesso eleitoral dos trabalhistas. Agora, porém, Brown deverá assumir um partido dividido pelo estilo centralizador de Blair e um eleitorado à espera de mais atenção a assuntos internos. Se não tem o mesmo carisma do atual premier, Brown é percebido pelo eleitorado como um administrador capaz e é bastante provável que ele se valha de escudeiros para suavizar a imagem de político introspectivo.

O grande desafio, porém, será modernizar o projeto de governo que vingou nos últimos dez anos. Questões como a qualidade dos serviços públicos e a galopante especulação que jogou nas alturas os preços dos imóveis no Reino Unido já não se encaixam mais na cartilha do Novo Trabalhismo. Há ainda a necessidade de manter uma certa distância de Blair.

¿ Por isso é que não será surpresa se Brown conduzir uma reforma radical no Gabinete. Imagino que ele vai promover uma nova geração de trabalhistas, banindo nomes mais ligados a Blair ¿ diz David Coates.

No plano internacional, muito se fala sobre a posição de Brown em relação aos EUA ¿ a lealdade de Blair à chamada aliança transatlântica foi um de seus pecados capitais. É de se esperar uma certa frieza em relação a George W. Bush, ainda que mais pela empatia que Brown nutre pelo Partido Democrata (ao ponto de ser amigo dos Clinton e passar as férias em redutos democratas dos EUA, como Cape Cod e Martha¿s Vineyard) do que por preferência geopolítica.

¿ Brown não é um entusiasta da Europa como bloco político, e sim econômico ¿ diz Coates. (F.D.)