Título: Líder acidental de partido hesitante
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 13/05/2007, O Mundo, p. 33

LONDRES. Menzies Campbell parece ser o sujeito ideal para debates e comentários políticos na TV, não para ocupar o número 10 de Downing Street. Sua efetivação como líder do Partido Liberal Democrata, em março do ano passado, deu-se muito mais por necessidade ¿ o então ocupante do posto, Charles Kennedy, renunciara em janeiro quando vieram à tona histórias sobre seu alcoolismo ¿ do que por vocação. Sua candidatura ganhou importância porque dois dos principais rivais foram personagens de escândalos homossexuais.

Aos 65 anos, Campbell ainda não provocou grande impacto na política e seus críticos logo apontaram para o desempenho sofrível nos debates semanais com Blair no Parlamento. Em nada ajudou o fato de que várias pesquisas revelaram que ao menos o dobro de eleitores dos liberais-democratas consideravam Kennedy um líder mais qualificado. Outro problema é que grande parte da popularidade da legenda nos últimos anos se deve muito mais ao voto de protesto por conta da oposição ferrenha à participação do Reino Unido na invasão do Iraque.

Campbell, porém, pouco pode fazer diante do grande dilema liberal-democrata: a legenda nasceu em 1998 de uma união entre os partidos Liberal e Social-Democrata e um dos resultados é que sua plataforma às vezes parece apontar tanto para a direita quanto para a esquerda. Há ainda o complicado sistema eleitoral, que não prioriza a proporcionalidade dos votos e impede que o aumento da fatia dos libdems no bolo eleitoral resulte em mais espaço no Parlamento.

¿ É mais do que isso, porém: os liberais-democratas ainda têm uma imagem burguesa demais para a classe trabalhadora e, ainda que tenham recentemente apresentado propostas mais populistas, como a gratuidade nas universidades e a taxação de grandes fortunas, contam com uma base eleitoral muito esparsa ¿ avalia Jonathan Tonge. (F.D.)