Título: O custo ambiental
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 14/05/2007, O Globo, p. 2

A qualidade da gestão sempre foi uma deficiência do governo Lula. O atual embate em torno da construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira colocam, mais uma vez, essa questão na pauta. O presidente Lula tem feito reclamações públicas sobre a demora na aprovação do licenciamento ambiental. E a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, retruca dizendo que a lei será cumprida.

O impasse retrata o dilema entre preservação da natureza e crescimento econômico. Essa não é a primeira vez que o país enfrenta esse desafio. O governo Fernando Henrique Cardoso viveu situação semelhante com a concessão de licenciamento ambiental para a instalação de novas plataformas da Petrobras, para prospectar petróleo de águas profundas do mar territorial brasileiro. Como o problema foi resolvido? O então ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, criou um grupo especializado, que funciona até hoje no Rio de Janeiro, para garantir que a instalação das plataformas de petróleo se faça com a redução de seu impacto no meio ambiente. O assunto saiu da pauta.

Por isso, aliados do governo acham possível equilibrar crescimento da economia e preservação do meio ambiente e defendem que seja criado um núcleo de trabalho semelhante, funcionando no Amazonas, para avaliar em que condições poderão ser construídas usinas hidrelétricas. Esse núcleo deveria ter estrutura e condições financeiras para contratar os melhores técnicos da área e pareceres científicos. Eles argumentam que o Brasil deve investir nisso, porque a Região Amazônica é alvo de interesse e da precaução internacional e possui o maior potencial de produção de energia hídrica no país. É relevante lembrar que o Brasil é o quarto responsável mundial pelo aquecimento global, ficando atrás apenas de Estados Unidos, Rússia e China. Já o desmatamento da Região Amazônica corresponde a 75% da contribuição do país para o aquecimento global.

A decisão do Ibama de contratar especialistas de notório saber para avaliar a construção das usinas do Rio Madeira é um indicativo de que, embora tenha melhorado a sua qualidade técnica, seus analistas estão longe de oferecer a segurança necessária em se tratando de decisões tão importantes para o futuro do país. Diante da relevância do tema e do amplo conhecimento público que se tem dele, é surpreendente que o governo atual e o anterior não tenham se antecipado a fatos que são uma crônica anunciada.