Título: 'A Igreja tem perfil étnico europeu'
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 15/05/2007, O País, p. 4
Para teólogo, Papa tratou a questão negra superficialmente.
SÃO PAULO. Ao homenagear os negros brasileiros, em uma curta citação durante a missa campal de domingo, no Santuário Nacional de Aparecida, o Papa Bento XVI ignorou a supremacia branca na Igreja Católica no Brasil. A crítica é do teólogo Fernando Altemeyer, da PUC de São Paulo. Ele aponta que apenas 11 dos quase 400 bispos brasileiros são negros. A proporção se repete em todo o clero nacional. É de mil para 18.600 entre os sacerdotes. Além disso, apenas cerca de 30% das freiras são negras.
O teólogo lembrou ainda que o Papa tratou apenas superficialmente da questão negra e que evitou o encontro com as comunidades afro-brasileiras. Os representantes dos cultos foram impedidos de participar do encontro ecumênico com o Papa, em São Paulo, na última quarta-feira.
- Em seus discursos, pouco se ouviu sobre a questão negra. E a Igreja hoje tem um perfil étnico europeu. O Brasil é o maior país negro fora da África. O apoio à caminhada do povo negro é um grande desafio para a Igreja hoje - disse Altemeyer.
O teólogo lembrou ainda que estiveram fora da agenda do Papa no Brasil viagens a estados que têm maioria negra, como Minas Gerais e Bahia. Apesar das críticas, Altemeyer reconheceu as limitações impostas pelo olhar europeu de Bento XVI. O Papa fez referência aos afro-brasileiros ao lembrar o Dia da Abolição, comemorado domingo.
- É compreensível (a dificuldade em entender a realidade negra brasileira), mas o fato é que o olhar do Papa é etnocêntrico - disse o teólogo.