Título: Aeronáutica impede CPI de ouvir controladores
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 15/05/2007, O País, p. 8

Saito saudou visita dos deputados como uma oportunidade de mostrar "a excelência das condições de trabalho".

BRASÍLIA. Integrantes da CPI do Apagão Aéreo tiveram ontem a primeira mostra das limitações que vão enfrentar para investigar a responsabilidade dos controladores de vôo e do comando da Aeronáutica no acidente da Gol e na crise no setor que tumultuou os aeroportos do país desde então. Na visita da CPI ao Cindacta I, em Brasília, o objetivo era conversar com os controladores e conhecer o funcionamento do órgão. Mas, alegando questões de segurança, os comandantes do Cindacta traçaram um roteiro próprio, em que os parlamentares só puderam observar o trabalho dos controladores por um mirante.

Na maior parte do tempo, acompanhados pelo comandante da Força, Juniti Saito, os deputados assistiram a palestras sobre a segurança do sistema de controle aéreo, quando militares fizeram relato sobre o contingenciamento de verbas. Hoje a CPI ouve, em depoimento, o delegado da Polícia Federal Renato Sayão, que presidiu o inquérito sobre o acidente que matou 154 pessoas, em setembro passado.

Sem citar o motim dos controladores ou o acidente, Saito saudou a visita como oportunidade de mostrar "a excelência das condições de trabalho" ali proporcionadas. Outros militares exaltaram a segurança do sistema aéreo brasileiro e mostraram vídeo do filme "Torres Gêmeas", para mostrar que o modelo de controle militar do Brasil é um dos mais confiáveis.

Doze deputados foram ao Cindacta. A visita não pôde ser registrada pela imprensa. Os comandantes alegaram que, por questão de segurança, não poderiam conversar com os controladores. O mais próximo que chegaram foi à sala do Centro de Operações Aéreas Militares, onde é feita a vigilância do controle aéreo no momento.

- Vamos pedir acesso aos controladores, se não for hoje (ontem) , voltamos outro dia - disse o deputado Vic Pires Franco (PSDB-PA), na chegada.

- Tivemos uma bela aula de como funciona o espaço aéreo brasileiro. Não entramos no centro de controle para não atrapalhar os controladores, mas estivemos numa área de lazer. Sim, tem uma área de descanso para os controladores, e pudemos conversar com alguns que não estavam trabalhando - disse o relator Marco Maia (PT-RS).

A visita foi classificada por um dos deputados como "espetáculo de som e luzes". Segundo ele, uma lavagem cerebral da Força para tentar garantir que tem controle do espaço aéreo.

Os comandantes aplaudiram quando os deputados reclamaram do contingenciamento dos recursos provenientes de tarifas cobradas nos bilhetes destinados a segurança e infraestrutura dos Cindactas. Um deles relatou que, ano passado, o governo deixou de repassar R$120 milhões dos R$420 programados.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmou que era preciso tomar providências para impedir o contingenciamento.

- Colocaram isso com cuidado, por causa da hierarquia. Mas o major Ramon disse: "graças a Deus! Tomara que consigam". Estimam que, por ano, sejam arrecadados R$800 milhões com as tarifas, mas o dinheiro não chega - contou a deputada Solange Amaral (DEM-RJ).