Título: A primeira vez
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 3

A primeira - e única, até ontem - entrevista coletiva do presidente Lula ocorreu no dia 29 de abril de 2005, poucos dias antes de estourar o escândalo da cobrança de propina nos Correios e, logo depois, a descoberta do mensalão. Lula disse que era "difícil reconhecer um erro num governo que acerta tanto", mas deixou de lado o "nunca neste país" - bordão que adora e repete sempre para exaltar feitos de sua gestão - para admitir três erros. Admitiu ter errado ao "não ter tido uma participação maior na sucessão na Câmara", referindo-se à eleição do "rei do baixo clero" Severino Cavalcanti - que acabou tendo de renunciar - e à derrota do candidato do governo, o petista Guilherme Greenhalg. Admitiu um segundo erro: a adoção da política monetária como única ferramenta de combate à inflação. Desde então, os juros já caíram, mas a política monetária continua sendo usada para manter sob controle os índices inflacionários. E o terceiro erro que admitiu: não conseguiu fazer grandes obras para melhorar as rodovias. Erro que continua até hoje - às vésperas das eleições do ano passado, fez uma Operação Tapa-Buracos que remendou estradas, mas nem de longe resolveu o problema. As rodovias continuam esburacadas, não há grandes obras, e o programa de concessão de grandes e importantes trechos da malha rodoviária do país está suspenso.

Naquela primeira coletiva, Lula também fez rasgados elogios ao então ministro da Fazenda, o hoje deputado petista Antonio Palocci. "Eu e Palocci somos unha e carne", disse o presidente, quando perguntado sobre a decisão do ministro de levar para sua equipe o economista Murilo Portugal, que integrara o governo Fernando Henrique. Palocci caiu um ano depois, no escândalo da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro que o acusara. Portugal já deixou o governo petista e hoje é vice-presidente do FMI.