Título: A melhor economia e o melhor programa do mundo
Autor: Franco, Ilimar e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 5

A SEGUNDA VEZ: Presidente afirma que o Brasil vive o momento mais favorável de toda a história da República.

À vontade em seu estilo "nunca antes neste país", Lula teve alguns arroubos verbais, como no elogio ao Bolsa Família.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou segurança e bom humor na segunda entrevista coletiva desde que assumiu o governo, em janeiro de 2003. Mas manteve-se fiel a seu estilo, com muitos exageros e arroubos, afirmando várias vezes a expressão, ou outra variável, que mais usa em seus discurso: nunca antes neste país.

Descontraído, o presidente consultou anotações uma única vez, para citar números e cifras da matriz energética e brincou até com ele mesmo quando afirmou que não era condição sine qua non a ocupação de cargos pelos partidos para montar a coalizão do governo.

- Vocês gostaram do sine qua non? - perguntou aos jornalistas, rindo.

Relação com governadores também é motivo de exagero

O presidente usou e abusou do costume de tratar seu governo como o primeiro a fazer quase tudo o que existe no país. Ao falar da relação com os governadores, exagerou:

- Eu duvido - aí eu vou dizer pela primeira vez - que tenha havido um momento em que o presidente da República teve a relação que nós temos com os governadores....

Ao falar da economia brasileira, o mesmo expediente:

- Fizemos isso e o resultado é que nós vivemos o melhor momento da economia de toda a história da República.

Num outro momento afirmou ao falar de comércio exterior:

- (...) o Brasil nunca teve uma relação internacional tão privilegiada como a que nós temos hoje.

Depois, sobre o Bolsa Família, disse que é o melhor programa do mundo:

- Os resultados estão aí para quem quiser acompanhar, e não existe hoje, no mundo, um programa de sucesso como o Bolsa Família.

À vontade, cometeu alguns deslizes verbais. Numa das vezes em que se referiu ao Copom, disse "Cupom", chamou o Cindacta de "Cindática".

Desacostumado das entrevistas coletivas formais, por duas vezes o presidente queixou-se da demora para que a entrevista chegasse ao fim. Na décima pergunta, disse que, pelas suas contas, já teriam sido feitas as 15 perguntas. Na última, disse que sua impressão era a de que tinha respondido a 80 perguntas.

Apesar do tom ameno, em alguns momentos Lula demonstrou alguma contrariedade diante da pergunta. O exemplo mais eloqüente ocorreu quando teve que falar sobre a sucessão presidencial de 2010 e da possibilidade de um terceiro mandato.

- Bom, quem tem que explicar é quem inventou isso.

Num outro momento, chegou a ser irônico:

- Meu Deus do céu, eu esqueci de perguntar para o Papa! - disse Lula, quando perguntado se ele faria seu sucessor.