Título: Centrais: projeto é autoritário e ridículo
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 8

CUT e Força Sindical reagem a controle de greve no setor público.

SÃO PAULO. Mesmo próximas do governo, as duas principais centrais sindicais reagiram com veemência às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de limitar as greves do setor público. Na entrevista de ontem, Lula endossou a proposta do Ministério do Planejamento e da Advocacia Geral da União (AGU), que prevê que as greves têm de ser aprovadas por dois terços da categoria e que, apesar da paralisação, os grevistas têm de manter 40% dos servidores trabalhando. O presidente da CUT, o petista Arthur Henrique da Silva Santos, chamou a medida de autoritária. O presidente da Força Sindical, o deputado pedetista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse que não vai concordar com um projeto "ridículo" do governo.

- Ninguém gosta de fazer greve de 90 dias. As pessoas fazem isso para serem ouvidas - disse Arthur Henrique, referindo-se ao presidente ter dito que greve de 90 dias, sem corte de pagamento, são férias.

Ontem, antes da entrevista de Lula, a CUT havia publicado em seu site uma entrevista de Arthur Henrique classificando de autoritária a proposta do governo que obriga o funcionalismo a manter 40% dos trabalhadores trabalhando durante a greve. A CUT representa 80% do funcionalismo público (federal, estadual e municipal) do país.

"Nem Lula teve dois terços da categoria em São Bernardo"

Após a entrevista de Lula, o sindicalista reforçou que o termo ainda era válido para as palavras do presidente:

- Mantenho a palavra autoritário. Não é a palavra que é forte. O projeto do governo é que é forte. Além disso, é uma posição extremamente absurda. Quem decide quem são os 40% que vão trabalhar? Se é uma greve do setor elétrico, por exemplo: a categoria fala que os 40% que trabalharão são do escritório. Daí ocorre um apagão. Vai adiantar alguma coisa? - criticou ele, e continuou: - O setor elétrico sempre fez greve e a população nunca ficou no escuro.

O presidente da Força Sindical disse acreditar que o presidente Lula vá mesmo chamar as centrais sindicais para negociar as novas regras para greves do funcionalismo conforme prometeu ontem na entrevista. Ele disse não estar constrangido de fazer parte da base do governo, nem pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ser do seu partido.

- Eu represento a Força Sindical. Não sou do governo. E não tenho nenhum compromisso de votar em uma proposta ridícula do governo. Hoje (ontem), vi o Lula dizendo que vai chamar as centrais para negociar. Se ele não negociar, não vai passar no Congresso, porque vamos fazer muita pressão - disse.

Para o deputado, a necessidade de aprovar a greve numa assembléia com a presença de dois terços da categoria inviabiliza qualquer paralisação.

- A gente tem a impressão de que estão tentando proibir o direito de greve. Nem o Lula conseguiu dois terços da categoria no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo, na greve de 78. Não tem como levar.