Título: Delegado culpa controladores e pilotos do Legacy
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 11

Em diálogo, piloto diz que transponder estava desligado.

BRASÍLIA. Primeiro convocado a depor na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, o delegado Renato Sayão, da Polícia Federal, confirmou ontem que as investigações sobre o acidente com o Boeing 737-800 da Gol apontam a responsabilidade dos pilotos do jato Legacy, Jan Paladino e Joe Lepore. Sayão disse ainda que os controladores de vôo brasileiros que estavam de plantão no Cindacta I, em Brasília, também têm parte da culpa pelo acidente. Em quatro horas de depoimento, ele revelou pela primeira vez um diálogo comprometedor entre o comandante do Cindacta de Manaus e os pilotos logo depois de pousarem na Base Aérea do Cachimbo. O diálogo indica que o TCAS (transponder, equipamento anticolisão) da aeronave da americana ExcelAire estava desligado no momento do choque.

Segundo Sayão, ainda sob o impacto da batida no ar, um dos pilotos, ao ser interrogado pelo comandante do Cindacta IV, tenente coronel Carcavalo, repetiu quatro vezes que o TCAS estava desligado. Mas o ruído de uma conversa em inglês ao fundo da gravação mostra que ele mudou a versão e passou a negar as declarações.

- Seu vôo estava nivelado ? - pergunta Carcavalo.

- Nivelado em 370 ( 37 mil pés) - responde o piloto, sempre em inglês.

- O TCAS estava ligado?

- Não - diz o piloto.

- Não??? - surpreende-se o comandante.

- TCAS is off (desligado) - confirma o piloto.

Em seguida, há um ruído na gravação e o delegado suspeita que seria alguém falando em inglês para que o piloto mudasse a versão. Logo depois, ele diz:

- TCAS is on (ligado).

Sayão disse que várias perícias foram feitas, mas não foi possível comprovar se há uma terceira voz mandando o piloto mudar a versão. Mas uma outra conversa entre os dois pilotos americanos, extraída da caixa preta do Legacy, mostra que os dois constataram que o transponder e o TCAS estavam desligados no momento do choque. E providenciaram o religamento no trecho entre a batida e a descida na Serra do Cachimbo. O Legacy passou por Brasília com os equipamentos ligados, mas depois foram desligados:

- A conclusão é que o desligamento foi um ato involuntário, talvez por imperícia. Voluntário seria suicídio.

Foi a primeira vez que uma autoridade brasileira admitiu que a responsabilidade pelo acidente tem de ser dividida entre os pilotos e os controladores. No inquérito da PF enviado ao Ministério Público, Sayão pediu o indiciamento de Lepore e Paladino por crime culposo (atentado a segurança do transporte aéreo culposo).