Título: Serra se entusiama com fuzil da polícia
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 12

Governador manuseia arma em homenagem a policiais que prenderam seqüestrador.

SÃO PAULO. Durante a cerimônia em que homenageou os policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) pela atuação no seqüestro da operadora de caixa de supermercado Mara Sílvia de Souza, de 29 anos, e seus três filhos, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), se entusiasmou com um fuzil belga FN-762 usado pela corporação. Conhecido como fuzil sniper, é usado por Forças Armadas e polícias de diversos países. É uma arma leve e usa munição de calibre 7,62. Atiradores de elite das Forças Armadas usam o fuzil para atacar alvos a 800 metros de distância.

Após uma demonstração, em que um dos policiais disparou a arma, Serra pediu o fuzil e o manuseou. Fez mira e piadas enquanto segurava o armamento, arrancando risadas de policiais e do secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. No evento, foi condecorado o tenente-coronel Flávio Jari Depieri, responsável pelo grupo de negociadores do Gate durante o seqüestro.

Dezenove dias após ter ficado mais de 56 horas refém de um assaltante, a vida da família de Mara mudou drasticamente. Até hoje, ela, o marido Isvaldo Soares de Oliveira, de 32 anos, e os filhos, de 9 anos, 7 anos e 4 anos, não conseguiram voltar para casa. Além disso, Isvaldo mudou de emprego para ficar mais perto da família.

A residência deles, no Jardim Novo Campos Elíseos, em Campinas, continua destruída. As portas da casa foram arrombadas e algumas janelas quebradas para que a polícia conseguisse chegar ao seqüestrador Gleivson Flávio de Sales, de 24 anos, que foi preso. Além disso, diversos móveis foram destruídos para o bandido montar uma barricada.

¿ Ainda não temos o dinheiro necessário para a reforma ¿ disse Isvaldo.

Os cinco estão morando na casa da mãe de Mara, na frente do terreno.

¿ Não gosto de voltar lá em casa. Fico pensando nas horas de sofrimento e me sinto mal ¿ disse Mara.

A intenção da família era mudar de casa, mas, por causa da falta de dinheiro, tiveram que ficar. Mesmo com um salário menor, Isvaldo decidiu sair do trabalho de técnico em hidráulica e agora é instrutor de auto-escola.

¿ O salário é menor, mas fico mais tempo e mais perto da minha família. É o que importa.

Ontem, Mara e sua família estiveram na homenagem aos homens do Gate. Ela vestia uma camiseta branca com a inscrição: paz.