Título: Caso Dorothy: fazendeiro é condenado a 30 anos
Autor: Soares, Cleo e Guedes, Rafael
Fonte: O Globo, 16/05/2007, O País, p. 13

Jurados dão pena máxima a Bida, considerado mandante e mentor intelectual do assassinato da missionária.

BELÉM. Depois de dois dias de julgamento, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi condenado a 30 anos de prisão. Por cinco votos a dois, os jurados consideram Bida, como é conhecido, mandante e mentor intelectual do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, no Pará. Ele foi condenado por homicídio duplamente qualificado, com o agravante de a vítima ser idosa. Em 12 de fevereiro de 2005, Dorothy, de 73 anos, foi emboscada por dois homens quando seguia para reunião com agricultores em Anapu e, assassinada com seis tiros, nas costas e na cabeça.

Após o anúncio da sentença, a euforia tomou conta dos que esperavam pela condenação de Bida, entre os quais os irmãos de Dorothy, David e Thomas Stang.

- É um momento de alívio para nós, pois estávamos com medo pela impunidade que já predominou em outros casos de mandantes de crimes de conflitos agrários, e esperamos que este seja o início de uma mudança, para que o martírio de nossa irmã Dorothy não tenha sido em vão. Para nós, foi feita justiça. Mas falta ainda investigar o consórcio de fazendeiros - disse David Stang, que, ao lado de Thomaz, comemorou com os agricultores.

Durante o julgamento, o promotor Edson Cardoso e o assistente de acusação Aton Fon Filho dividiram o tempo reservado para a acusação na primeira parte do debate e pediram a pena máxima, de 30 anos de reclusão. Pediam aos jurados que reconhecessem o réu como mentor intelectual do crime.

Com o apoio de João Batista Gonçalves e Rosilene Silva, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Edson Cardoso e Aton Fon sustentaram a tese de homicídio duplamente qualificado, com promessa de recompensa, motivo torpe e uso de meios que impossibilitaram a defesa da vítima, demonstrando aos jurados que a missionária era tida como ameaça para os fazendeiros, em virtude das atividades sociais que exercia, principalmente na Região Amazônica.

Em sua alegação, o promotor lembrou que a missionária, que chegou ao Brasil em 1966, foi morta pelas costas após ler trechos da Bíblia para os assassinos e dizer-lhes que eram "soldados mandados".

Bida ouvia com atenção quando foi questionada a versão de que os executores teriam usado sua fazenda Rio Verde apenas como rota de fuga.

- Rota de fuga ou ponto de encontro para pagamento? Fico com a segunda hipótese, porque eles ficaram lá. Poderia passar pela fazenda e ir embora - afirmou o promotor.

Vitalmiro é o quarto envolvido no crime a ser condenado. Antes foram julgados Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista, condenados a 27 anos e 17 anos de reclusão, respectivamente.

Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas foi beneficiado com a redução de um terço da sentença - definitiva em 18 anos -, se valendo do recurso de delação premiada. O recurso garante benefício a acusados que colaboram dando informações no processo.

Ainda falta ir a julgamento outro fazendeiro que também é acusado de ser um dos mandantes do crime. Reginaldo Pereira Galvão aguarda o júri em liberdade.

* De O Liberal