Título: Em 1999, BC sofreu pressão contrária
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 16/05/2007, Economia, p. 22

Se agora o governo parece ter desistido de segurar o dólar acima de R$2, há pouco mais de oito anos o mercado de câmbio também levou o Banco Central (BC) à lona, mas, na ocasião, ambos estavam em campos opostos. Em 13 de janeiro de 1999, depois de perder mais de US$5 bilhões em reservas em apenas dez dias para tentar conter a disparada do dólar, o BC desistiu de intervir no mercado. O país abandonou o regime de bandas cambiais e, depois de uma confusa transição, adotou de vez o câmbio flutuante. O dólar fechou aquele fatídico mês de janeiro em R$2,08.

Mas, na época, o dólar perto de R$2 tinha um significado completamente diferente do atual. O país amargara um déficit comercial de US$6,57 bilhões em 1998. No ano passado, as exportações brasileiras superaram as importações em US$46,12 bilhões. Quando houve a maxidesvalorização de 1999, não faltaram previsões de que o Brasil teria que decretar moratória e de que a inflação dispararia para até mais de 30%.

Afinal, nos primeiros anos do Plano Real, o câmbio controlado era o principal instrumento para manter a inflação sob controle e o pilar da estabilização da economia. Com a mudança de regime cambial, a âncora do controle de preços passou a ser o sistema de metas de inflação. Entretanto, o país continuou sujeito a crises cambiais ¿ a moratória da Argentina, o estouro da bolha de nova tecnologia nas bolsas mundiais e a especulação com as eleições presidenciais em 2002 fizeram as cotações do dólar disparar. E, por tabela, levaram o país a descumprir, por sete anos seguidos, o centro da meta de inflação.

Com a manutenção de políticas econômicas ortodoxas pelo presidente Lula (o que afastou o temor de investidores internacionais) e o avanço das exportações brasileiras (beneficiadas, justamente, pela ajuste anterior do câmbio), a tendência do dólar tem sido só de queda desde 2003. O cenário internacional extremamente favorável também contribui.