Título: Investidor corre mundo e dólar cai aqui e lá fora
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/05/2007, Economia, p. 23

Perda de fôlego da economia dos Estados Unidos também afeta cotações da moeda americana.

O dólar baixo não é privilégio da economia brasileira. No mundo inteiro, a moeda americana está em franca desvalorização. Em parte, devido à fraqueza da economia dos Estados Unidos - este ano, pela primeira vez desde 1991, o país deve crescer menos até do que o Japão. Mas na avaliação de especialistas, conta mais o fato de que grandes países emergentes, como China, Índia, Rússia e Brasil, têm despertado o interesse de investidores financeiros e empresários.

- O apetite a risco está alto, e os resultados corporativos mostram que essas apostas estão compensando. Há um retorno efetivo dos investimentos em emergentes. E não se trata só de fluxo financeiro, mas também de investimento produtivo. Todos os países com possibilidade de ganhos futuros de produtividade estão muito atrativos - afirma Sandra Utsumi, economista do BES Investimento.

Na lista das dez moedas que mais se valorizaram frente ao dólar, o Brasil ocupa a quarta posição, com alta de 7,76% no real este ano. A rúpia indiana, por exemplo, subiu 8,04%. Do mesmo modo, as bolsas de valores de diferentes países emergentes têm batido recordes seguidos.

O vigor dos países emergentes tem impacto direto no saldo comercial brasileiro e, assim, derruba ainda mais a cotação do dólar no mercado internacional. Sandra explica que cresceu muito a demanda por commodities e produtos semimanufaturados, base da pauta de exportação do Brasil. Os preços desses itens no mercado internacional dispararam, ajudando a elevar o ganho dos exportadores brasileiros. Enquanto os países ricos devem crescer só 3% este ano, as nações em desenvolvimento devem ter uma expansão econômica de 7%, na previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Perspectiva de manutenção de juro baixo nos EUA ajuda

Para Fernando de Holanda Barbosa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o desaquecimento da economia americana deverá manter em alta a já elevada liqüidez internacional (volume de recursos disponíveis para investimentos ao redor do mundo). Com os Estados Unidos crescendo menos, são menores as pressões inflacionárias naquele país e, assim, pode ser adiada ainda mais uma alta nos juros americanos. A manutenção de taxas baixas nos EUA fará com que os investidores continuem dispostos a aplicar em mercados mais arriscados, como os países emergentes.

Além da perda de fôlego dos Estados Unidos - o país deve crescer 2,2% este ano, contra 2,3% da zona do euro e 2,3% do Japão, segundo previsão do FMI - a queda do dólar no mundo inteiro é alimentada pelos desequilíbrios da economia americana. Sandra Utsumi, do BES, lembra que os Estados Unidos têm hoje um déficit em conta corrente (transações com o resto do mundo) de 6% de seu Produto Interno Bruto (PIB). O déficit fiscal do país é de 2,5% do PIB.

Diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni avalia que a recente queda do dólar no Brasil é sustentada pela queda do risco-Brasil, pelos juros elevados e pelo crescimento mais fraco nas economias americana e européia.

www.oglobo.com.br/economia

COLABOROU Patricia Eloy