Título: Governo entrega os pontos: 'Não tem milagre'
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/05/2007, Economia, p. 23

DÓLAR VAI À LONA: Presidente do BC afirma que instituição sempre intervirá no mercado para "corrigir excessos".

Lula diz que moeda se ajustará quando país importar mais. Mantega aconselha exportador a vender para o mercado interno.

BRASÍLIA e RIO. O governo mudou o tom ontem em relação à queda do dólar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o empresariado não deve esperar de seu governo uma intervenção no mercado para, artificialmente, depreciar o real. Segundo ele, o movimento atual reflete uma realidade internacional e, como o câmbio é flutuante, ele se ajustará naturalmente, sem mágicas. Em sua segunda entrevista coletiva desde o primeiro mandato, Lula deu a fórmula pela qual o Executivo pode ajudar o setor produtivo a enfrentar a situação desfavorável: desonerações tributárias, aumento das alíquotas de importação e defesa comercial, tendo a China como alvo:

- O dólar vai se ajustar na medida em que a gente comece a importar mais bens de capital, na medida em que a gente comece a reduzir a taxa de juros, que está sendo reduzida e vai continuar sendo reduzida. Agora, não tem milagre.

O presidente vetou mudanças na política cambial:

- Ah, cria o câmbio para agricultura, cria o câmbio-soja, o câmbio-automóvel, o câmbio-parafuso, isso não dá.

Até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, crítico contumaz do dólar baixo, deu um tom de resignação a suas declarações e afirmou que não adianta forçar uma alta na cotação porque a moeda está se desvalorizando internacionalmente. Por isso, enfatizou, a política cambial brasileira será mantida. Segundo Mantega, assim como a cotação do dólar ficou abaixo de R$2 ontem, ela pode voltar a subir.

"Vamos encontrar um ponto de equilíbrio", diz ministro

O ministro também fez questão de destacar que as empresas que perderam competitividade no mercado internacional ainda têm a opção de vender seus produtos no mercado interno, que está aquecido.

- Para o empresário brasileiro, existe a alternativa de exportar, mas também tem o mercado interno como alternativa, de modo que o que interessa é o resultado final. A indústria automobilística exportava mais, agora está exportando menos, mas está vendendo muito mais para o mercado interno.

Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que a instituição vai continuar a intervir no câmbio.

- O BC não tem metas de câmbio, como foi enfatizado tanto pelo presidente como pelo ministro da Fazenda. O BC intervém sempre que acha que existem distorções de preços, para corrigir excessos. Não permitiremos excessos no mercado ou que as cotações se distanciem muito daquelas indicadas pelos fundamentos da economia.

Meirelles deixou claro que não existem limites para a acumulação de reservas:

- A acumulação de reservas tem se mostrado extremamente útil e valiosa na medida em que tem aumentado a resistência a choques externos.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a alta do real é conseqüência do bom momento da economia, que atrai capital externo:

- Vamos encontrar um ponto de equilíbrio.