Título: Pastore: momento é para governo alavancar crescimento
Autor: Oliveira, Eliane e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 16/05/2007, Economia, p. 24

Ex-presidente do BC diz que dólar abre espaço para juros menores. Para professor da USP, salários ficam mais altos.

Para os economistas, o dólar baixo veio para ficar e não necessariamente é ruim para a economia do país. Isso porque o real valorizado significa salários mais elevados e pode abrir espaço para juros menores. O ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore acha que o governo deve aproveitar o momento para alavancar o crescimento.

- É um movimento permanente, não transitório - analisa Pastore, que participou, ontem, do segundo dia do Fórum Nacional, no BNDES. Se a alguns setores a notícia pode trazer preocupação, para o economista é uma boa notícia. Além de abrir espaço para uma redução dos juros, o país ainda deve chegar ao fim do ano com saldo comercial de US$45 bilhões.

Apesar de considerar que a economia brasileira está vivendo um bom momento, Pastore chama atenção para o atual patamar da taxa de investimento no país.

- Ela é a mais baixa dos últimos anos - diz ele, comparando com as taxas dos anos 90. Na década passada, a taxa de investimento girava em torno de 32% do Produto Interno Bruto (PIB); hoje está perto de 16%.

O economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do BC, lembra que o gordo fluxo cambial serve como termômetro do investimento estrangeiro direto no país.

- Esse volume era de US$18 bilhões no ano passado, mas pode chegar a US$23 bilhões este ano e a US$26 bilhões em 2008, voltando ao nível recorde histórico, de US$32 bilhões, atingido no fim da década de 90, no auge das privatizações. Com isso, o real acaba sendo uma vítima do seu próprio sucesso.

Economista da Funcex diz que país exporta capital

Já o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a principal razão para a queda recente do dólar é o elevado saldo comercial do Brasil, que tem propiciado, inclusive, superávit em conta corrente (resultado positivo nas trocas com o exterior, incluindo, além dos bens, serviços e investimentos). Mas, para Ribeiro, isso não é necessariamente bom para países em desenvolvimento, como o Brasil.

- O superávit em conta corrente significa que o país está exportando capital. Isso só é adequado a países em desenvolvimento que tenham taxa de poupança elevada, o que não é o caso do Brasil. Precisamos ter déficit em conta corrente, ou seja, ter ingresso líquido de recursos do exterior, para financiar nosso desenvolvimento.

O professor da USP Joaquim Eloi Cirne de Toledo destaca que dólar baixo significa salários mais elevados para os trabalhadores brasileiros. E que é graças ao câmbio que os preços estão sob controle.

- A inflação hoje está baixa por causa do dólar. E o dólar está caindo por causa dos juros. Para mudar o câmbio, seria preciso reduzir drasticamente a taxa de juros e isso afetaria a inflação. A política monetária só poderia ser menos rigorosa se o governo adotasse um ajuste fiscal mais forte - diz Toledo.