Título: Setores afetados terão tratamento especial
Autor: Oliveira, Eliane e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 16/05/2007, Economia, p. 24
DÓLAR VAI À LONA: Indústrias cobram medidas para conter desvalorização da moeda. Fiesp prevê prejuízo para o PIB.
Governo vai dar financiamento do BNDES com prazos e taxas mais vantajosos a quem perde com o câmbio.
BRASÍLIA, SÃO PAULO e WASHINGTON. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse ontem que os setores automotivo, naval, calçadista, moveleiro e têxtil/de vestuário receberão tratamento diferenciado do BNDES a curto prazo, com financiamento a prazos e taxas mais vantajosos. A idéia, afirmou o ministro, é garantir maior competitividade e mais investimentos:
- Não se trata de termos mudado o foco da política industrial brasileira. Eu diria que são setores emergenciais.
Miguel Jorge explicou que cada um desses setores tem uma particularidade. Têxteis, calçados e móveis, por exemplo, precisam ser mais competitivos para enfrentar a concorrência da China. O ministro revelou que os chineses têm preocupado mais o governo do que o câmbio valorizado.
Medidas adicionais podem sair ainda este mês A inclusão do setor automotivo se deve ao fato de que, em 2008, as indústrias deverão atingir o pico de sua capacidade produtiva e, por isso, têm de planejar novos investimentos. Sobre a indústria naval, Miguel Jorge explicou que o governo pretende incentivar a construção de navios e a recuperação de estaleiros desativados. Têxteis e calçados já foram beneficiados com o aumento para 35% das tarifas de importação. Mas isso ainda depende da aprovação dos países do Mercosul.
Ao mesmo tempo, segundo fontes da área econômica, outras medidas para esses setores, como a desoneração da folha de pagamento, podem ser anunciadas até o fim deste mês.
Apesar de alguns gargalos e entraves, Miguel Jorge acredita que a economia crescerá de 4,5% a 5% este ano.
Essa não é a opinião da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que estima que o atual patamar do câmbio pode reduzir a expansão do PIB em até 2,2 pontos percentuais em 2007. A Fiesp voltou a cobrar a adoção de medidas para conter a desvalorização do dólar, que acumularia 26% entre 2003 e 2006.
- Nosso câmbio não é flutuante, é mergulhante - disse o diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini.
O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira, reconhece que o câmbio defasado ajuda no controle da inflação e beneficia setores da economia que utilizam importados. Mas lembra o impacto negativo junto aos setores com mão-de-obra intensiva, como vestuário e calçados.
O diretor do Departamento de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Ricardo Martins, rebate o argumento de que o setor não tem tentado se adaptar ao quadro atual. Segundo ele, a indústria está em processo de reinvenção, reduzindo a parcela exportada e direcionando seus produtos ao mercado interno.
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, mesmo os exportadores de commodities podem perder a longo prazo:
- Nossa estimativa inicial para o câmbio era de uma cotação entre R$2,10 e R$2,15 em dezembro. Agora, se ficar em R$2,05 já será um lucro - disse Castro, acrescentando que, para os exportadores, a cotação ideal seria entre R$2,50 e R$2,70.
Para ex-embaixador, Mercosul ficou pequeno
Nesse cenário, o Mercosul vai ficando em segundo plano. O governo, agora, quer conquistar o resto do mundo. Essa é a opinião do presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, o ex-embaixador Rubens Barbosa.
- A percepção generalizada no Brasil, e em especial no setor privado, é a de que o Mercosul ficou pequeno demais para o país, que está se tornando um global trader - disse Barbosa ontem, em conferência sobre o bloco no Centro Woodrow Wilson, em Washington.
(*) Correspondente