Título: Contrapartida vem na Câmara
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 17/05/2007, O País, p. 3

Governistas derrubam investigação de obras na CPI do Apagão.

BRASÍLIA. Enquanto ganham velocidade as nomeações políticas para o segundo escalão do governo, os trabalhos da CPI do Apagão Aéreo na Câmara esbarram na força da maioria governista, liderada por PMDB e PT. Os governistas passaram o rolo compressor e derrubaram, por 15 votos a nove, o requerimento do PSDB com o qual a oposição pretendia incluir nas investigações da CPI os contratos e supostas irregularidades em projetos e obras do setor.

No Senado, governo e oposição confirmaram acordo que deve garantir hoje, na instalação da CPI do Apagão, o senador Tião Viana (PT-AC) na presidência e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) na relatoria. O governo não tem maioria folgada na Casa e poderá ter dificuldades.

Na Câmara, os deputados Gustavo Fruet (PSDB-PR), Otávio Leite (PSDB-RJ) e Valderlei Macris (PSDB-SP) pretendiam requerer as auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre controle e segurança do tráfego aéreo, contratos e investimentos feitos no setor desde o governo Fernando Henrique Cardoso. A discussão virou um embate entre governo e oposição.

- Se houver irregularidades, mais dia menos dia isso virá à tona. É melhor que tomemos a iniciativa de investigar. A CPI do Senado poderá ser um espelho dessa. O que não fizermos aqui será feito lá. Para que não sejamos pegos como negligentes, não devemos encobrir nada - disse Fruet.

Senado pedirá ajuda de TCU, Ministério Público e PF

Do lado governista, deputados se revezaram para criticar o requerimento do PSDB e acusar os tucanos de usar a CPI para fazer disputa política.

- Precisamos agir com prudência. Esse requerimento é inadequado. O Senado vai investigar por pressão de quem? Da opinião pública? Por causa da disputa da oposição com o governo? Isso aqui não vai virar um palco de disputa política intestina - disse André Vargas (PT-PR).

No Senado, a idéia, para agilizar os trabalhos da CPI, é aproveitar o que já foi apurado por TCU, Ministério Público Federal e Polícia Federal. Será pedido que pelo menos um representante de cada uma dessas instituições acompanhe a CPI.

Embora estivesse resistindo à idéia de comandar os trabalhos, o petista Tião Viana aceitou a missão do partido. Antes, conversou com Demóstenes e adiantou que não aceitará que a investigação se desvie dos três fatos determinados indicados pelo requerimento de criação da CPI: as causas do acidente do Boeing da Gol, as razões do apagão aéreo e as irregularidades praticadas na Infraero.

- Essa não vai ser a CPI do Fim do Mundo. Nosso objetivo não é desgastar ninguém. Essa investigação não vai terminar no Ministério da Justiça ou na Presidência da República - garantiu Demóstenes, que se recupera de uma operação no joelho e ontem foi ao Congresso em cadeira de rodas. Ele espera concluir os trabalhos da CPI antes do prazo de 120 dias.