Título: O Dia da Europa
Autor: Ferrero-Waldner, Benita
Fonte: O Globo, 17/05/2007, Opinião, p. 7

Celebramos no dia 9 de maio o "Dia da Europa", aniversário da Declaração de Schuman. Falando em Paris em 1950, Robert Schuman, então ministro das Relações Exteriores da França, propôs uma nova forma de ordenação política para a Europa, cujo propósito era tornar impensável qualquer guerra entre as nações européias.

Sua visão e presciência foram confirmadas no começo deste ano nas celebrações do qüinquagésimo aniversário da União Européia, o órgão criado como resultado dessa famosa declaração.

Ao longo dos anos, a União Européia evoluiu para muito mais do que um simples bloco comercial que coordena a política comercial dos países membros e estabelece tarifas comuns. Hoje, é um projeto político e econômico reunindo 27 países europeus e mais de 490 milhões de pessoas.

Seus cidadãos podem estudar, trabalhar ou morar em outro país da UE com um mínimo de burocracia e podem gozar dos benefícios sociais e de saúde em toda parte. Viajar através da Europa requer cada vez menos o uso de passaporte, e a maioria de seus cidadãos compartilha uma única moeda.

A UE também age nas áreas que impõem os maiores desafios às sociedades no século XXI. Somos parceiros estratégicos de outros países, em todas as regiões do mundo, nas mais variadas questões: terrorismo internacional, mudança climática, HIV/Aids e a solução dos conflitos mais arraigados no mundo.

Nossa prosperidade resulta de uma forma particular de cooperação regional que se desenvolveu paralelamente a um profundo compromisso com a democracia, os direitos humanos e o império da lei. É essa experiência - o segredo de nosso próprio sucesso - que procuramos oferecer aos outros países.

Acreditamos que as soluções para os problemas mundiais só podem ser encontradas através das parcerias. É por isso que valorizamos tanto as relações com nossos parceiros no mundo inteiro. É também essa a razão de nosso profundo compromisso com o multilateralismo.

Nos próximos anos, continuaremos a trabalhar com nossos amigos e parceiros para resolver as principais questões com que nos confrontamos: mudança climática, segurança energética, resolução de conflitos e manejo das forças da globalização. Também trabalharemos na promoção dos valores que nos são mais caros e que acreditamos serem o segredo na nossa própria prosperidade - o respeito aos direitos humanos, à democracia e ao império da lei.

Em se tratando das relações exteriores da União Européia, o Brasil merece uma referência especial. Nosso relacionamento com este país, o principal parceiro econômico-comercial da UE na América Latina, é denso e plural, marcado por intenso e profícuo diálogo que abrange os mais diferentes setores, do meio ambiente ao comércio, englobando também as novas tecnologias, energia, transportes marítimos e a cultura, entre outros.

Por acreditar firmemente no futuro dessa parceria, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, anunciou recentemente a disposição de elevar o Brasil à condição de "parceiro estratégico privilegiado" da UE. Ao fazê-lo, reconhece a relevância do Brasil não apenas como potência econômica mas também como relevante ator político, e sinaliza a disposição de dar início a uma nova era na história das relações com este importante país. Em breve, a Comissão Européia deverá encaminhar comunicação ao Conselho da UE estabelecendo as bases desse ambicioso projeto.

Ao mesmo tempo em que coloca o Brasil entre seus parceiros preferenciais, a UE, que se distingue pelo apoio indefectível à integração regional, continua com a firme disposição de reforçar seus vínculos de cooperação e amizade com o Mercosul e de avançar, em curto espaço de tempo, nas negociações para a assinatura de um acordo de associação entre os dois blocos. A missão é árdua; os obstáculos múltiplos. Ainda assim, a vontade política expressa por ambas as partes será decisiva para o desfecho exitoso do processo, com a criação da maior área de livre comércio de todo o mundo.

Neste dia simbólico, reafirmamos o objetivo que nos propusemos para os próximos 50 anos: usar as realizações dos últimos 50 anos - nossa riqueza, nossa paz e nossa experiência - não apenas para manter nosso padrão de vida, mas também para beneficiar outros povos.

BENITA FERRERO-WALDNER é comissária européia para Relações Exteriores e Política de Vizinhança.