Título: Como Lula, Lupi diz condenar greves longas
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 17/05/2007, O País, p. 8

Ministro do Trabalho e presidente do PT defendem projeto; seus liderados no Congresso são contra.

BRASÍLIA.Para evitar polêmica e divisão entre os governistas, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defenderam a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que longas greves no serviço público, com pagamento de dias parados, são férias e não greves. Mas seus liderados no Congresso, ligados ao movimento sindical, contestaram não só a opinião de Lula mas também o duro anteprojeto do governo de regulamentação da greve no serviço público.

Evitando dar opinião sobre a proposta, Lupi disse que o assunto ainda não chegou à sua pasta, mas concordou que os serviços essenciais devem ter tratamento especial nas paralisações:

- Não me compete discordar do presidente da República, já que eu sou ministro dele. O meu cargo é de confiança. Estamos abrindo o diálogo para tratar dessa questão. Eu considero que o serviço público tem uma diferença do setor privado. Tem setores essenciais para a população, como deixar criança sem aula, deixar de operar paciente e segurança - disse Lupi.

O ministro ponderou que é preciso encontrar uma solução que atenda às reivindicações dos trabalhadores sem prejudicar a população:

- É preciso discutir com profundidade e ter compreensão dos dois lados de que o governo não é patrão igual aos outros. Temos que buscar equilíbrio e encontrar uma saída que, ao mesmo tempo, garanta o direito do servidor de fazer sua reivindicação, mas também garanta à população o serviço essencial.

No Congresso, a reação mais contundente foi do deputado Vicentinho (PT-SP), ex-presidente da CUT e amigo pessoal de Lula. Discordando do presidente, disse que nenhum servidor público faz greve por prazer, como se tira férias.

- O servidor público não faz greve por prazer. Isso é muito diferente de férias, que a gente tira com prazer. O governo tem que priorizar a negociação para que não haja a greve - disse Vicentinho.

Berzoini defende a regulamentação

Já o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força Sindical e do partido de Lupi, o PDT, criticou alguns pontos da proposta que está sendo discutida no núcleo do governo: o quórum de dois terços da categoria na assembléia; a permanência mínima de 40% dos servidores trabalhando em serviços essenciais; e a contratação de terceirizados:

- Nem na ditadura aconteceu isso. Esse tipo de regra inviabiliza uma greve - disse Paulinho.

Ricardo Berzoini defendeu a posição do presidente Lula.

- Se a greve não tem regulamentação, fica fragilizada. É preciso criar uma instância de mediação para que haja arbitragem. No caso do serviço público, a greve não é uma relação capital e trabalho, mas uma relação usuário e Estado. Isso muda o enfoque - disse Berzoini.

O senador e ex-sindicalista Paulo Paim (PT-RS) considera importante a regulamentação e também concorda com o presidente Lula:

- Quando se faz greve, ninguém tem os dias parados assegurados. Isso é fruto de um processo de negociação. Agora, o direito de greve tem que ser assegurado, mas com os serviços essenciais mantidos, principalmente onde há risco de vida - argumentou Paulo Paim.