Título: Turista estrangeiro paga mais caro por pacote de viagem para o Brasil
Autor: Ribeiro, Erica e Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 17/05/2007, Economia, p. 24

DÓLAR VAI À LONA: Hotéis do Rio já registram perdas de 35% no faturamento

Moeda americana abaixo de R$2 prejudica agências de turismo receptivo

Erica Ribeiro e Fabiana Ribeiro

Com o dólar abaixo dos R$2, ficou mais caro para os estrangeiros viajarem para o Brasil. Os custos chegam a ser 30% maiores que há dois anos. Além da perda de turistas para países como Argentina, México e África do Sul, o impacto imediato do dólar baixo será para agências de viagens e hotéis, que montam os pacotes para turistas estrangeiros pelo período de um ano.

-- Como trabalham com o preço todo em dólar, os pacotes são baseados em uma expectativa de câmbio que não é mais a mesma. Isso compromete o faturamento. Hoje, o Brasil está de 25% a 30% mais caro para um turista estrangeiro que há dois anos - diz o presidente da Associação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional (Bito), Roberto Dultra, que defende preços e tarifários em real.

Na alta temporada, fluxo de estrangeiro deve cair 10%

Segundo Dultra, em 2005 e 2006, o faturamento bruto de muitas empresas do setor aumentou em dólares, mas caiu em reais, praticamente eliminando as margens de lucro.

-- De setembro de 2002 a dezembro de 2006, a desvalorização do dólar frente ao real foi de 45,92%. Apesar de todas as tentativas de aumento de preços (em dólar), os custos operacionais subiram 31%. Por isso, o setor enfrenta tantas dificuldades de fluxo de caixa.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes e Bares do município do Rio, Alexandre Sampaio, a hotelaria carioca já contabiliza defasagem de 35% no faturamento do receptivo internacional. Segundo ele, o setor estuda alternativas, como desoneração da cadeia produtiva e formação de preços dos pacotes por período e não para o ano inteiro.

Para Alfredo Lopes, diretor da Protel, já se espera uma queda de 10% no movimento de turistas estrangeiros no país na alta temporada.

- Muitos estrangeiros terão de mudar seu destino de férias. Em vez de virem para o Brasil, devem visitar a Argentina.

Segundo Eduardo Lima, diretor da agência Rio G, os turistas americanos são os que mais sofrerão com o câmbio.

- Em julho, há mais europeus. Mas, no fim do ano, as agências vão sentir mais os danos do câmbio, quando é maior a vinda de americanos.

Segundo Paulo Pimentel, diretor do Grupo Marsans, os efeitos sobre o turismo receptivo não são imediatos, já que as viagens são planejadas com antecedência. E, com isso, não devem comprometer o movimento nos próximos dois meses.

- Haverá conseqüências maiores se o dólar se mantiver nesse patamar. O que pode nem ocorrer - disse Pimentel, lembrando que os brasileiros festejam a valorização do real.

Para quem pensa em aproveitar o câmbio para passear para fora do país, vale lembrar que pacotes internacionais em dólar baratearam de um ano para cá. Queda de preço em viagens para a Europa, somente naquelas cotadas em dólar. Em euro, não houve alteração. No Grupo Marsans, 90% dos pacotes para Europa são em dólar. Já na CVC, os pacotes para a Europa são em euros.