Título: Com cotação baixa, empresas buscam recursos no exterior
Autor: Batista, Henrique Gomes e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 17/05/2007, Economia, p. 25
DÓLAR VAI À LONA: Dívidas anteriores já foram quitadas.
Juros internacionais são mais atraentes para companhias.
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Se por um lado os exportadores sofrem com o câmbio valorizado, outras empresas aproveitam o momento para se financiar no exterior. Cada vez mais as companhias optam por obter recursos em dólares, aproveitando o momento de força da moeda nacional, os baixos juros internacionais e, principalmente, a expectativa de que a moeda americana continuará em baixo patamar por muito tempo. Dados do Banco Central (BC) mostram que, em março, os empréstimos intercompanhias - operações em que as matrizes financiam as filiais brasileiras - chegaram a US$33,449 bilhões, crescimento de 65,5% em um ano. Estes empréstimos somavam US$20,216 bilhões em março de 2006.
- No primeiro momento, as empresas aproveitaram para quitar dívidas em dólar, temendo que a valorização do real fosse temporária. Agora estão voltando ao mercado externo para captar recursos para investimentos e financiar suas operações, pois acreditam que o atual momento cambial vai se manter por um bom tempo - afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Fernandes Lima.
Ele acredita que este movimento deve ser intensificado nos próximos meses, aproveitando o bom momento de outros indicadores, como a queda do risco-Brasil e o alto volume das reservas internacionais.
O movimento também começa a ser sentido nos empréstimos com instituições ou no mercado. O BC informa, por exemplo, que o endividamento do empresariado no exterior, considerando apenas o médio e o longo prazos, e excluindo as transações entre empresas do mesmo grupo, subiu 22,7% em um ano. Passou de US$54,723 bilhões (estoque de dezembro de 2005) para US$67,158 bilhões no último dia de 2006. Os levantamentos mais recentes não foram tornados públicos devido à greve dos funcionários do BC.
Para analista, investimento dará mais competitividade
- É um movimento que já está se desenhando e a tendência agora é que esse tipo de endividamento aumente - diz o economista-chefe da Máxima DTVM e sócio da consultoria Up-Trend, Jason Vieira.
Esse movimento tende a ampliar ainda mais a entrada de dólares no país, com mais depreciação do câmbio, mas é positivo, segundo Vieira.
- O impacto (no câmbio) virá mais adiante, mas não é algo negativo, porque esse tipo de captação geralmente é para investimentos em modernização da produção, e resulta em maior competitividade - diz Vieira, observando que o aumento das importações de bens de capital nos últimos meses já evidencia esse processo.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, observa que muitas empresas também estão pagando dívidas velhas para fazer novas captações em condições muito melhores, a juros mais baixos e prazos maiores.
- O maior risco embutido na operação é o da desvalorização do real, que hoje é praticamente nulo - diz.