Título: Petrobras vai aumentar preço do gás natural
Autor: Ordoñez, Ramona e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 17/05/2007, Economia, p. 27

Tribunal de Contas da União vai auditar a venda das duas refinarias da companhia ao governo da Bolívia.

RIO e BRASÍLIA. Os preços do gás natural produzido no país e destinado ao mercado interno continuarão subindo para conter o forte crescimento do consumo e manter o equilíbrio entre oferta e demanda. A informação foi dada ontem pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ao explicar que a procura pelo produto está crescendo a taxas elevadas, de 17% ao ano.

Em setembro de 2005, a Petrobras passou a aumentar os preços do gás, congelados desde o início do governo Lula. A mudança na política de reajustes foi motivada pelas altas taxas de crescimento do consumo e pelos problemas que a empresa enfrenta em relação à importação do gás da Bolívia.

- São feitos ajustes na oferta e na demanda. Se a demanda está crescendo 17% ao ano, o preço vai ter que ajustar isso --disse Gabrielli, durante o XIX Fórum Nacional, no BNDES.

Gabrielli garantiu, porém, que não há déficit entre a oferta e a demanda, que hoje é de 42 milhões de metros cúbicos por dia. Essa demanda, disse, passará para 121 milhões de metros cúbicos diários em 2011, quando a oferta será igual.

- O preço do gás tem que acompanhar o preço do combustível alternativo, é prática universal - destacou Gabrielli.

Companhia quer ultrapassar Vale do Rio Doce em lucro

O Tribunal de Contas da União (TCU) vai acompanhar a venda das duas refinarias da Petrobras ao governo da Bolívia. Os ministros do tribunal aprovaram ontem, por unanimidade, a instalação de uma auditoria após receberem a informação de que as instalações podem valer US$180 milhões, cerca de US$70 milhões a mais do que o valor acertado na semana passada.

A auditoria foi proposta pelo ministro Augusto Nardes, a pedido do deputado Augusto Carvalho (PPS-DF).

- O Brasil poderia ter consolidado sua posição de forma mais clara. Poderia ter evitado, se houvesse antecipação dos negociadores brasileiros, que essa faca fosse colocada no pescoço do Brasil - afirmou o ministro.

A equipe técnica do tribunal vai acompanhar o caso. Depois, será feito um relatório, e o ministro dará seu parecer. Em tese, o tribunal pode aplicar multas aos gestores envolvidos nas negociações:

- A questão envolve a credibilidade da empresa, seus acionistas e recursos da União. É preciso evitar prejuízo ao país.

No Fórum, Gabrielli disse que a Petrobras vai recuperar a liderança, perdida para a Vale do Rio Doce, no ranking de empresas mais lucrativas. A estatal lucrou R$4,1 bilhões no primeiro trimestre, perdendo o primeiro lugar para a Vale, que teve lucro de R$5 bilhões.

- Isso vai ser recuperado no próximo semestre. Com certeza, vamos superar a Vale no próximo trimestre - disse.

Cade faz acordos nos casos Ipiranga e Cintra

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) firmou ontem com Petrobras e AmBev acordos que evitam a consolidação de atos de concentração antes de serem julgados pelo sistema de defesa da concorrência. No primeiro caso, o acerto - conhecido como Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação (Apro) - envolve a compra da Ipiranga por Petrobras, Braskem e Ultra.

Diante do poder de mercado que a Petrobras terá como dona da Ipiranga, a empresa se comprometeu a fazer restrições no negócio até que seja julgado. Um gestor independente será responsável pelos ativos da Ipiranga nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e não poderá trocar informações estratégicas com a Ultra, que cuidará dos postos Ipiranga no Sul. O Cade já havia firmado um Apro com a Braskem, que se comprometeu a não vender ativos da Ipiranga. Com os Apros, a medida cautelar imposta ao ato de concentração ficou suspensa.

No caso da AmBev, o Apro tratou da compra das duas fábricas de cerveja da Cintra no Brasil. A AmBev se comprometeu a não adotar medidas que façam mudanças substanciais na capacidade produtiva da Cintra até que o Cade analise a fusão. A AmBev terá ainda de vender a marca Cintra nas mesmas condições de hoje.