Título: Gravações mostram esquema de fraude no Piauí
Autor: Tavares, Mônica e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 5

Presidente da companhia elétrica do estado e irmão do dono da Gautama foram presos.

TERESINA. No Piauí, a Polícia Federal prendeu ontem de manhã o presidente da Companhia Energética do Piauí (Cepisa), Jorge Targa Juni; o engenheiro Dimas Soares de Veras, representante da Gautama no estado e irmão do proprietário da empresa, Zuleido Veras; e João Manoel Soares Barros, empregado da Gautama. Eles serão transferidos hoje para Brasília.

Gravações feitas pela PF serviram de base para que a ministra do Superior Tribunal de Justiça e relatora do processo, Eliana Calmon, decretasse as prisões preventivas. "Dimas diz que, quando falou que não precisava mandar dinheiro para Jorge, no momento, apesar de o compromisso ser compromisso, é porque tem diligências contratuais e realmente essa obra foi prejudicada por conta da situação, da forma como foi conduzida", descreve um dos trechos.

Outra parte da gravação mostra a relação entre os acusados: "Dimas Veras diz ter falado com Jorge Targa e disse que Zuleido tinha mandado ele para lá, para resolver... para fazer a obra".

O Ministério Público Federal concluiu na denúncia que a entrega do dinheiro para Jorge Targa ocorreu em 13 de março. O transporte do pagamento teria sido acompanhado de Salvador, onde fica a sede da Gautama e onde mora Zuleido Veras, a Brasília, por "autoridade policial".

A ministra, em sua decisão de decreto das prisões, afirma que o presidente da Cepisa e o chefe de Gabinete do Ministério das Minas e Energia, Ivo Almeida Costa, tiveram atuação na fraude para desviar recursos do programa Luz para Todos:

"Ivo Almeida Costa, chefe de Gabinete do Ministério das Minas e Energia, com Jorge Targa Juni, teve atuação no Luz para Todos, em que a organização criminosa, valendo-se da colaboração de ambos, e de Sérgio Luiz Pompeu de Sá, fraudou o caráter competitivo da concorrência, permitindo que a obra fosse adjudicada à Gautama".

Na denúncia do Ministério Público, Soares Barros é acusado de pagar propina a funcionários da Cepisa e do Ministério de Minas e Energia para fraudarem licitação de obras de eletrificação rural no interior do Piauí, dentro Luz para Todos, do governo federal, avaliadas em R$61 milhões, para que ficassem com a Gautama.

Soares Barros, segundo o texto da ministra, atuava sob ordens diretas de Zuleido Veras e da diretora comercial da empresa, Fátima Palmeiras. Ele é acusado ainda de elaborar documentos que permitiram o convênio entre o governo do Maranhão e o Ministério dos Transportes para a implantação e pavimentação da rodovia BR-402.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, anunciou, ontem à tarde, a demissão de Jorge Targa, e informou que o conselho deliberativo da Cepisa vai escolher diretor provisório.

Sérgio Luiz Pompeu Sá, servidor do Ministério de Minas e Energia, também foi preso, sob acusação de auxiliar o grupo na obtenção de repasse de recursos do ministério à Eletrobrás para que, em convênio com a Cepisa, fosse favorecida a Gautama. Esse favorecimento seria feito através de contratos firmados mediante fraude no processo de licitação das obras do Luz para Todos. Pela colaboração, teria recebido "vantagens indevidas da organização criminosa".