Título: Assessor de Silas Rondeau está entre os presos
Autor: Tavares, Mônica e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 5

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: PF acusa servidor de usar o cargo para beneficiar a Gautama em licitação para obras.

Depois da prisão, ministro de Minas e Energia exonera o funcionário, com quem já trabalhara na Eletronorte.

BRASÍLIA. O assessor especial do gabinete do ministro de Ministro de Minas e Energia, Ivo Almeida Costa, de 54 anos, foi exonerado do cargo ontem depois de ser preso pela Polícia Federal. Ele havia assumido a função em 2005, quando Silas Rondeau foi indicado para o ministério. Almeida Costa é acusado de se valer do cargo para beneficiar a construtora Gautama. Segundo a PF, ele teria colaborado para fraudar uma concorrência para uma obra para extensão da rede rural de energia elétrica do Luz Para Todos, um dos principais programas sociais do governo Lula.

Segundo relatório reservado da Polícia Federal, Almeida Costa aliou-se ao presidente da Companhia Energética do Piauí (Cepisa) para favorecer a Gautama na licitação. A empresa pertence a Zuleido Soares Veras, apontado como o chefe da máfia desbaratada pela Operação Navalha, da Polícia Federal. "Tiveram atuação no evento identificado pela autoridade policial como Luz para Todos, em que a organização criminosa, valendo-se da colaboração dos agentes acima identificados, fraudou o caráter competitivo da concorrência", diz o documento obtido pelo GLOBO.

Funcionário de carreira da Eletronorte, Almeida Costa começou na empresa como mensageiro ainda na década de 80. Depois se formou em administração e passou para o cargo de auxiliar administrativo. Criado em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, trabalhou na medição da usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, na época de sua construção, no auge da ditadura militar.

Almeida Costa acompanhou Rondeau ao ministério

Nos últimos dez anos, Ivo Almeida Costa foi assessor do gabinete de vários presidentes da Eletronorte, entre eles, Silas Rondeau. Em 2004, ele foi gerente da assessoria de planejamento estratégico da empresa. Ocupou vários cargos de confiança na Eletronorte e era considerado pelos colegas como "boa-praça".

Ivo Almeida Costa mantinha uma boa relação com Silas Rondeau. Foi um dos primeiros a acompanhá-lo quando assumiu o ministério. Ele participava de reuniões técnicas, inclusive internacionais, como em agosto do ano passado, quando esteve com a Comissão de Integração Energética Regional (Cier), que reúne os países da América do Sul. Almeida Costa integrou ainda o conselho de administração da Companhia Energética de Alagoas (Ceal) em 2005.

O relatório da PF informa que, como uma organização de âmbito nacional, o grupo de Zuleido Veras mantinha cúmplices em postos estratégicos no governo federal. Nessa frente de apoio da organização, estariam Almeida Costa; o superintendente da Caixa Econômica Federal Flávio José Pin; e Ernani Soares Gomes Filho, funcionário do Ministério do Planejamento cedido à Câmara.

Segundo a Polícia Federal, com a influência de funcionário do gabinete do ministro, Almeida Costa ajudou a direcionar a licitação nº 49 para a Gautama. A concorrência refere-se a uma obra de expansão da rede rural de energia elétrica do Luz Para Todos, um dos principais programas do governo Lula.

Superintendente da CEF auxiliava as fraudes

O superintendente da CEF Flávio Pin e Gomes Filho, do Ministério do Planejamento, atuavam, de acordo com os policiais federais, como uma espécie de consultores da organização. Cabia a ele repassar informações que ajudassem a Gautama a vencer licitações e receber recursos, inclusive de obras em situação irregular.

Somente em uma dessas operações, Pin teria obtido a liberação, no Ministério das Cidades, de R$10 milhões para obras executadas pela Gautama no município de Camaçari, na Bahia. As investigações da PF começaram no início do ano passado na Justiça Federal da Bahia. Em novembro, com o surgimento de indícios contra o governador Jackson Lago, o comando do inquérito foi transferido para o STJ.