Título: PF: Jackson teria recebido propina de R$240 mil
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 8

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Procurador-geral pediu a prisão de pedetista, mas ministra negou por falta de flagrante.

Governador do Maranhão é um dos principais investigados pela Navalha; assessores e sobrinhos foram presos.

BRASÍLIA e SÃO LUÍS. O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), é um dos principais investigados pela Operação Navalha, que resultou na prisão de 46 políticos, empresários e servidores públicos ontem. O governador é acusado de receber R$240 mil em propina para beneficiar a Gautama, empreiteira de Zuleido Soares Veras.

O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, chegou a pedir a prisão de Jackson junto com os demais 47 acusados de envolvimento com a organização do empreiteiro Zuleido Soares Veras. Mas a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon, relatora do caso, disse que não tinha condições de atender ao pedido do procurador-geral.

"Deixo de decretar a prisão de Jackson Lago, governador do Maranhão, por entender que inexistem elementos fáticos capazes de decretar sua prisão em flagrante, única forma possível de custodiá-lo, diante do que dispõe o art. 66, parágrafo 3º, da Constituição do Estado do Maranhão". Ou seja, ele só poderia ser preso em flagrante ou se condenado no fim do processo.

Entrega do dinheiro acertada, em código, por telefone

Segundo relatório reservado da Polícia Federal, Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama, pagou, em 21 de março, R$240 mil a Jackson Lago. O pagamento teria sido intermediado por Alexandre de Maia Lago e Francisco de Paula Júnior, sobrinhos do governador. A PF fez as acusações com base em gravações de conversas de Alexandre Maia com Fátima, entre outros integrantes da organização, antes, durante e depois do repasse do dinheiro.

A PF informa que o dinheiro foi sacado em agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica no Maranhão e levados para Fátima, em Brasília, por Florêncio Vieira, também funcionário da Gautama. A partir daí, Fátima acerta o pagamento numa conversa em código por telefone com Alexandre, que estava em Brasília acompanhando Jackson Lago. "Alexandre diz que está chegando a Brasília e queria conversar a respeito do andamento daquele procedimento. Fátima diz que precisa muito conversar sobre isso", descreve um dos policiais encarregados de degravar o diálogo.

Em seguida, Fátima diz que conversou com "seu amigo daqui (Paulo Júnior), que precisa entregar uma documentação a ele, o que vai acontecer por volta das 21h30m". Em resposta, Alexandre diz que "ele (Paulo) ligou para ele, não puderam se entender sobre esse assunto, mas nesse horário estará com o governador no Hotel Kubitschek Plaza e, na hora que eles (Fátima e Paulo) fizerem contato, ele (Paulo) ligará e Alexandre pedirá a pessoa da representação que o deixe onde estiverem".

Segundo a polícia, os dois estavam combinando o local de pagamento da propina, o hotel Alvorada. "Alexandre diz que recebeu recomendação de seu chefe hierárquico para que se encontrem no hotel Alvorada", diz o relatório. "Fátima diz ok, mas demorará um pouco, será naquele horário mesmo", acrescenta o documento. Depois de seguir o rastro do dinheiro e gravar as conversas, a PF teve o cuidado ainda de acompanhar os passos de Jackson Lago: "A autoridade policial constatou que o governador Jackson Lago, no dia 21 de março de 2007, estava em Brasília, hospedado no Hotel Kubitschek, apto 1.001, muito embora seu nome não constasse na lista de hóspedes".

A PF tem imagens de Jackson passando pela recepção e subindo ao 10º andar do hotel. Segundo a polícia, no dia seguinte ao encontro no Alvorada, "Fátima Palmeira relatou a João Manoel (colega de trabalho) a entrega do dinheiro feita aos sobrinhos do governador Jackson Lago". O dinheiro "se destinava a garantir o recebimento de outras medições e o saldo ainda existente das medições anteriores". As medições são importantes porque é partir desses documentos que os governos liberam recursos para as obras, mesmo que não tenham sido executadas.

Em nota, PDT declara apoio ao governador

Em nota oficial, o PDT declarou apoio ao governador. "A Executiva Nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT) vem publicamente manifestar a sua integral solidariedade ao governador do Maranhão, companheiro Jackson Lago, homem íntegro, ético e com uma vida inteira dedicada ao Maranhão e ao Brasil", diz texto distribuído pelo líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ). O PDT diz não temer investigação sobre Jackson, "governador pela vontade da maioria do povo após derrotar uma oligarquia que há décadas controlava o Maranhão".

Jackson Lago cancelou ontem uma viagem que faria à Argentina como parte da comitiva brasileira no encontro de governadores da América Latina. À noite, divulgou nota negando "envolvimento em qualquer ação ilícita".

COLABOROU: Raimundo Garrone