Título: Operação deixa Renan e Sarney apreensivos
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 9

Senadores ficam nervosos com prisão de assessores ligados a seus aliados políticos.

BRASÍLIA. A Operação Navalha surpreendeu dois dos principais aliados do governo Lula no Senado: o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Isso porque as investigações atingem, em cheio, aliados de ambos. Sarney até cancelou seu embarque para a Europa, onde participaria de uma reunião de ex-chefes de Estado.

Apreensivo, Sarney sequer comemorou a prisão de um dos seus maiores desafetos, o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares. Tampouco quis comentar os rumores de que o atual governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT) - que derrotou sua filha, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) - corre o risco de ser preso.

Rondeau, apadrinhado de Sarney, teve assessor preso

A operação da PF também prendeu Ivo Almeida Costa, assessor direto do ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, este, um apadrinhado de Sarney.

- Isso é assunto da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça - disse Sarney, por meio de sua assessoria, que confirmara antes que Rondeau havia afastado o assessor preso.

Ao longo do dia, Sarney se reuniu com aliados em busca de mais informações sobre a ação da PF. Entre eles, Renan, que também não disfarçava sua preocupação com a situação do governador de Alagoas, o tucano Teotônio Vilela, seu aliado no estado, que teve um secretário estadual, o diretor do Detran e o ex-chefe de gabinete presos. No mundo político, o empresário Zuleido Veras, apontado pela PF como chefe da quadrilha presa ontem, nunca escondeu a amizade com Renan.

- Falei com o governador pelo telefone e ele me comunicou que já afastou todos os envolvidos - disse Renan, que só chegou ao Senado à tarde.

Renan confirmou ainda que conhece há muito tempo o dono da construtora Gautama:

- Conheço Zuleido, sim. Ele trabalha em Alagoas há mais de 30 anos. Mas se alguém teve um desvio de comportamento, paciência. Ninguém está acima da lei - disse Renan.

João Alves chora por causa de prisão do filho

Antes de renunciar ao mandato, em 2000, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) interrompeu um discurso de Renan lembrando-o, em tom de ameaça, que quem conhecia sua vida era Zuleido. Na ocasião, os dois estavam brigados porque Renan defendia o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA), desafeto de ACM na época. Renan ficou em silêncio.

- Não falo mais do Renan. Somos grandes amigos - disse ontem Antonio Carlos, evitando relembrar o fato.

O clima de apreensão deverá prosseguir, até que seja revelada a extensão da investigação da PF. O senador João Tenório (PSDB-AL), que assumiu o mandato de Teotônio Vilela após sua eleição para o governo alagoano, admitiu ontem que Renan e o governador alagoano ficaram preocupados com a operação.

- O Teotônio não fez licitação em Alagoas. Mas ele está muito preocupado com tudo isso. Quer transparência. O Renan também está preocupado, pois, existindo qualquer ligação, prejudica - disse Tenório.

Outro que ficou muito nervoso foi o ex-governador João Alves (DEM-SE), cujo filho foi preso pela PF. Ele foi até a casa do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). Abatido, chorou na frente do correligionário.