Título: Ex-governador do MA preso por atuar no esquema
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 9

SÃO LUÍS. O ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), que foi aliado por mais de 30 anos da família Sarney mas tornou-se seu adversário, foi preso ontem ao acordar, em seu apartamento no condomínio de luxo Cidade do Porto, no bairro do Calhau, na capital. A PF chegou ao condomínio às 6h, e foi logo entrando e impedindo o porteiro de interfonar para o ex-governador. Uma equipe de quatro policiais foi recebida pela namorada de José Reinaldo, a delegada da Polícia Civil Ana Karla Silvestre, que, após exigir o mandado de prisão, resolveu acordá-lo.

José Reinaldo tomou banho, vestiu calça jeans e camisa, tomou café e seguiu, sem ser algemado, no carro da polícia até a sede da PF no Maranhão, onde ficou preso até as 16h30m, quando foi transferido para Brasília.

Segundo seu sobrinho e deputado estadual Marcelo Tavares (PSB), o ex-governador estava tranqüilo e ciente de que não tem nada a temer:

- Ele disse apenas que era tudo uma grande armação.

O advogado do ex-governador, José Antônio Almeida, vai entrar hoje com pedido de habeas corpus no STJ.

Na Câmara, rápida menção do líder do PSB

Depois que rompeu com a família Sarney e perdeu o poder no Maranhão, José Reinaldo vive uma situação quase que de isolamento político. A única manifestação, ontem, no Congresso, em relação à sua prisão foi feita pelo líder do PSB na Câmara, Márcio França, por meio de uma nota curta e formal, na qual o partido evita defendê-lo.

A nota assinada pelo líder diz que o PSB só se pronunciará a respeito depois de avaliar a consistência das acusações e que o partido só tomou conhecimento do assunto ontem. "O direito brasileiro considera todos inocentes, até que se prove o contrário. Por isso, até que se esclareça o episódio, o PSB recomenda a seus filiados e militantes o acompanhamento dos fatos com atenção e tranqüilidade", diz a nota.

Segundo a PF, ex-governador teria ganhado um carro

Segundo a Polícia Federal, José Reinaldo recebeu vantagens indevidas no exercício do cargo, como um veículo Citröen, no valor de R$110 mil. A sua participação no esquema diz respeito a medições fraudadas e ilícito direcionamento de processo de licitação à empresa Gautama nas obras de pavimentação da BR-402, no qual foi paga uma ponte que não saiu do papel, segundo as investigações da Polícia Federal. Para construir 119 pontes, a construtora Gautama faturou, somente em recursos federais no Maranhão, R$154 milhões no governo José Reinaldo.

Além de José Reinaldo e dos sobrinhos do governador Jackson Lago, foram presos no Maranhão o secretário de Infra-Estrutura, Ney Barros Belo; Vicente Vasconcelos Coni; Roberto Figueiredo Guimarães; José de Ribamar Ribeiro Hortegal; e o fiscal de obras da Secretaria de Infra-Estrutura Sebastião José Pinheiro Franco. No apartamento do fiscal, a PF encontrou R$700 mil em dinheiro vivo.

Em Alagoas, governo afasta servidores e abre sindicância

Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela (PSDB) determinou o afastamento de todos os servidores presos na Operação Navalha. Em nota, o tucano afirma ainda que determinou à Controladoria Geral do Estado que abra uma auditoria em todos os processos em que a construtora Gautama seja a responsável pelas obras. Entre os presos, há cinco servidores do governo estadual.

"Tomei a iniciativa de determinar o imediato afastamento dos servidores ocupantes de cargos de confiança no nosso governo e envolvidos nesses fatos, até que as investigações estejam concluídas. Reitero meu firme compromisso com a transparência e com a moralidade pública", diz o governador.

Teotônio Vilela observa, porém, que é preciso garantir o amplo direito de defesa de todos: "As pessoas que foram detidas e estão sendo investigadas deverão ter assegurado o amplo direito de defesa em respeito à lei e à dignidade de todos".