Título: Zuleido, 'homem de negócios' com vários partidos
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 10

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Gautama administra obras federais e de governos estaduais que somam R$1,5 bilhão.

Empreiteiro começou como executivo da OAS, foi próximo de PC Farias e passou a ganhar licitações com facilidade.

BRASÍLIA. Nos corredores do Congresso, o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama, é um homem popular. O empresário paraibano preso ontem pela Operação Navalha circulava com desenvoltura por Brasília. Com um bigode vistoso, ganhou o apelido de "Charles Bronson do Nordeste", numa comparação com o ator de filmes de ação. Zuleido começou sua carreira como o principal executivo da empreiteira OAS em Brasília, no final dos anos 80.

Políticos e empresários lembram que, no governo Collor, Zuleido tinha relação próxima com o empresário Paulo César Farias, o PC, para quem teria operado. Seu nome chegou a ser citado informalmente na CPI que investigou o esquema PC.

Nesse período, Zuleido começou a se aproximar de políticos influentes e integrantes do então governo. Depois de uma atuação considerada heterodoxa pela cúpula da OAS, o empresário paraibano foi dispensado e abriu o seu próprio negócio em 1995: a Gautama, batizada em homenagem ao príncipe indiano Sidarta Gautama, o Buda. Com a sua própria empresa, Zuleido retomou sua rede de contatos para conseguir obras públicas e engordar o seu caixa.

- O Zuleido era da OAS. Aprendeu muita coisa e depois foi fazer negócio sozinho - conta o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA).

Segundo relato recente de Zuleido a políticos, a Gautama já administra obras federais e de governos estaduais que somam R$1,5 bilhão. Esse valor não significa o faturamento da empresa, mas a expectativa de realização de obras. Para conseguir a liberação desses recursos públicos, Zuleido tem estratégia própria: não é empresário ligado a este ou àquele partido, mas um "homem de negócio" que se relaciona com diversos políticos e diversas legendas.

"Ali, eu mando", gosta de dizer

Ele não se preocupa com a correção na execução das obras. Tanto que, no fim de 2001, a Gautama já era a primeira numa lista de obras irregulares identificadas pelo Tribunal de Contas da União. Na ocasião, eram nove obras irregulares que somavam R$661,9 milhões. Hoje, o número de obras irregulares da Gautama é três vezes maior, só no plano federal.

A pavimentação da rodovia BR-319, no Amazonas, foi considerada irregular pelo TCU. Mesmo assim, ano passado o Dnit liberou de uma única vez para a obra R$21,1 milhões, referentes a um empenho de 2005.

Zuleido tem facilidade para ganhar licitação de obras. E acesso fácil aos integrantes da Comissão de Orçamento do Congresso. Mesmo com o carimbo de irregular do TCU, o empresário sempre garante recursos para obras da Guatama.

O ex-deputado João Caldas (PR-AL), citado na Operação Sanguessuga, conta que Zuleido tinha grande influência na bancada de Alagoas. Ele ressalta que um dos exemplos do poder de Zuleido foi a liberação, no final de 2005, de R$70 milhões para o sistema de abastecimento do Pratagy, em Maceió. A obra tinha irregularidades, mas o governo federal liberou recursos para a Gautama depois de pressão da bancada, inclusive do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

- Era tudo direcionado, desde a aprovação na Comissão de Orçamento - acusa o sanguessuga João Caldas.

Zuleido é um homem que gosta de contar vantagens para impressionar seu interlocutor. A frase preferida dele é: "Ali eu mando". E cita, na seqüência, um político ou autoridade. Também gosta de afirmar: "Eu sou íntimo de fulano".