Título: Lula defende reformas trabalhista e previdenciária
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 18/05/2007, O País, p. 11

Presidente diz que mundo do trabalho mudou e que não é possível o emprego ser regido, hoje, por lei de 1943

BRASÍLIA. Depois de criticar as greves no serviço público, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), as reformas trabalhista e previdenciária. Sobre a Previdência, disse que mudanças precisam ser feitas para garantir o funcionamento do sistema daqui a 30 anos. Salientou que não vai retirar direitos dos trabalhadores, mas afirmou que, com as mudanças no mercado de trabalho, regras aprovadas na década de 40 não poderiam estar valendo até hoje.

O presidente também fez uma defesa enfática da reforma política, argumentando que os partidos não podem temer esse debate, e pregou pela reforma tributária. O discurso agradou especialmente aos empresários presentes na reunião do CDES.

- Longe de mim querer tirar direito de trabalhador. Se eu não puder dar, tirar, não tiro. Agora, não é possível que algumas coisas feitas em 1943 não precisem de mudanças em 2007, 2008. São 50 anos, o mundo do trabalho mudou, houve uma evolução nas condições de trabalho - disse Lula, referindo-se à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) aprovada no governo Getúlio Vargas.

"Temos que aproveitar o momento político"

Lula lembrou que, em sua época de dirigente sindical, os trabalhadores eram chamados de peões, e que hoje se ofendem com esse tratamento:

- Os caras já fizeram universidade, curso de especialização, estão noutro patamar. As condições deles são diferentes daquelas que eu, particularmente, enfrentei dentro de uma fábrica.

O presidente argumentou que é preciso debater tanto a reforma trabalhista quanto a previdenciária para identificar obstáculos e preparar o país para o futuro. Segundo Lula, se essas reformas não acontecerem agora, as futuras gerações vão cobrar. Lembrou que milhões de jovens necessitam de emprego e que é preciso preparar o mercado de trabalho para atendê-los:

- Pagaremos o preço quando a gente estiver velhinho. Quando a gente estiver sentado numa cadeira, com a dentadura de baixo mordendo a de cima, vai estar o nosso neto ou filho do nosso lado, reclamando das coisas que eles não têm porque não tivemos coragem de fazer. Temos de aproveitar o momento político para fazer essas coisas.

"Dificuldade de sair da casinha em que você está"

Lula reconheceu que mudanças não terão efeito imediato. Mas, se as reformas não forem discutidas, o projeto do governo ficará "um pouco defeituoso".

- A reforma da Previdência é necessária e não vamos resolver os problemas para hoje, não. A gente deve fazer o debate com a cabeça muito aberta, sem dogmas, sem medo, sem aquele negócio de que "isso me prejudica". Nós precisamos pensar no que vai ser bom para este país.

Lula cobrou coragem dos partidos políticos e do próprio governo para encaminhar a reforma política, reclamando que esse tema não pode ser discutido apenas nas eleições ou quando acontece algum problema:

- Reforma é como mudar de casa, ou seja, você está habituado a morar numa casa e precisa mudar; a outra pode ser muito melhor, ser maior, mas você tem dificuldade de sair da casinha em que você está. Está acostumado com o cheiro de mofo, com o banheiro entupido.