Título: Sócio da Light
Autor: França, Mirelle de e Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 18/05/2007, Economia, p. 25

BNDES converte empréstimo em ações e adquire 31,4% do capital da distribuidora.

OBNDES passou de credor a sócio da Light. Ao converter 90% das debêntures que possuía na distribuidora em ações, o banco detém, agora, 31,4% do capital total da empresa. O montante é equivalente a R$713 milhões. Apesar da participação expressiva, a instituição não fará parte do bloco de controle da companhia, que, no início do mês, encaminhou ao seu novo acionista um pedido de financiamento no valor de R$660 milhões. O anúncio foi feito na noite da última quarta-feira, em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Ao converter seu crédito em ações, o BNDES exerceu um direito previsto no acordo fechado com a Light em junho de 2005. Na época, o banco emprestou à companhia R$726 milhões (corrigido para o valor atual de R$809 milhões) em debêntures conversíveis. A instituição tinha até 2015 para transformar a dívida em participação. O financiamento fez parte do programa de apoio às distribuidoras de energia elétrica, lançado pelo BNDES em 2003 para socorrer o setor, que havia registrado fortes prejuízos durante o racionamento e mantinha alto endividamento em moeda americana. A Light foi a única distribuidora a aderir.

Banco não quis ficar no controle

De acordo com o presidente do banco, Luciano Coutinho, a decisão de tornar-se acionista da Light mostra a confiança que o BNDES tem na distribuidora de energia:

- Tínhamos um direito estabelecido no acordo com a Light e o exercemos. Neste momento, isso é importante para reforçar a estrutura de capital da empresa, que ficou mais robusta. Existirão oportunidades para que as empresas do setor invistam mais e, agora, a Light terá uma estrutura mais robusta para se expandir - disse Coutinho, durante o último dia do Fórum Nacional, ao ressaltar que foi feita uma conversão limitada a 90% porque não interessava ao banco ter o controle da empresa.

A entrada do BNDES no capital da companhia mudou a composição acionária da Light. O consórcio Rio Minas Energia (Cemig, Andrade Gutierrez, Pactual Energia e o fundo de Investimentos Luce), que comprou a Light em março do ano passado, reduziu sua participação de 79% para 54,2%. Já a francesa EDF, ex-controladora, passou de 10% para 6,8%. Os papéis em poder do mercado caíram de 10% para 7,6%.

O controle da Light já mudou de mãos várias vezes. A empresa pertenceu à canadense Brascan de 1902 a 1979, quando foi estatizada. Em 1996, foi novamente privatizada e ficou sob controle da estatal francesa EDF por dez anos.

Em comunicado divulgado no fim da tarde de ontem, o banco informou que "a visão do BNDES em relação ao ativo é de longo prazo" e que "o eventual desinvestimento ocorrerá de forma estruturada, respeitando a capacidade de absorção do mercado, no momento julgado adequado e em parceria com a empresa e o seu grupo controlador".

O Presidente do Conselho de Administração da Light, Wilson Brumer, disse que, com a melhoria da situação financeira da empresa - que reduziu a dívida líquida de R$2,3 bilhões para R$1,6 bilhão - a companhia pretende atuar de forma agressiva no processo de consolidação do setor elétrico no país. Brumer deixou claro que o foco de interesse é a ampliação das atividades no setor de geração.

- Nossa estratégia de longo prazo é fazer a companhia crescer. Não adquirimos a empresa para ficar como está. A empresa pode agora participar do processo de reestruturação do setor buscando novas oportunidades - disse Brumer.

O presidente da Light, José Alquéres, deixou claro também que o foco de expansão da Light será a área de geração.

- O Brasil vai crescer e vai precisar de mais energia nova.

O grupo controlador da Light anunciou ontem mesmo a intenção de aumentar em cerca de 44% os investimentos nos próximos anos. Alquéres informou que, além do investimento de R$1,8 bilhão previsto para a área de distribuição de energia no período de 2007/10, a empresa aplicará R$800 milhões no setor de geração de energia.

Esses recursos serão investidos na construção da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Paracambi, com 25 megawatts de capacidade, e da Usina Hidrelétrica de Itaocara, que terá 195 megawatts. O diretor financeiro da Light, Ronnie Vaz Moreira, informou que a PCH deverá levar dois anos para ser concluída, enquanto a Usina de Itaocara levará cerca de três anos.

À espera de novo financiamento

O financiamento de R$660 milhões pedido pela distribuidora, e que está sendo analisado pelos técnicos do BNDES, se destina a atender a 60% dos investimentos da companhia desde o segundo semestre do ano passado até o ano de 2008, informou Vaz Moreira. A expectativa é de que os recursos sejam liberados pela instituição no terceiro trimestre do ano.

Os dirigentes da Light não acreditam que o fato de o BNDES agora ser sócio da distribuidora influencie em sua decisão de aprovar o financiamento. Alquéres disse que o banco entendeu que a pequena redução nas perdas de energia - que passaram de 25,5% quando o grupo assumiu em agosto do ano passado, para 25% - não se deveu à má gestão, mas à diminuição da base de clientes.

Após o anúncio da operação com o BNDES, as ações da Light fecharam ontem em queda de 0,50%, cotadas a R$29,50. Durante o dia, porém, chegaram a cair 3,03%.