Título: Namorada derruba presidente do Banco Mundial
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Fonte: O Globo, 18/05/2007, Economia, p. 29

Pressionado pelas críticas à promoção que dera a Shaha, Wolfowitz renuncia e deixa o cargo em 30 de junho.

WASHINGTON. Abalado pelo escândalo da promoção dada a sua namorada e alvo das críticas de governos e da sociedade civil, o presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, anunciou ontem que deixará o cargo em 30 de junho. A crise se arrastava desde o início de abril, quando um comitê de funcionários se queixou da promoção e do vultoso aumento salarial que Wolfowitz havia concedido a sua namorada, Shaha Ali Riza. Na segunda-feira, um relatório do Bird afirmava que Wolfowitz havia infringido diversas normas de ética da instituição.

¿Os povos mais pobres do mundo (...) merecem o melhor que podemos oferecer¿, afirmou Wolfowitz em comunicado distribuído pelo Bird. ¿Agora é preciso encontrar uma maneira de seguir em frente¿. E acrescentou: ¿Anuncio hoje que vou renunciar à presidência do Banco Mundial¿.

A direção do Bird afirmou que o processo de nomeação de um novo presidente começará imediatamente. Em nota, o órgão agradeceu a Wolfowitz por seus serviços e lamentou que sua atuação no Bird tenha sido toldada ¿por eventos recentes¿. Wolfowitz, por sua vez, fala em ¿recente controvérsia¿ e diz esperar poder voltar a trabalhar com países da África.

Lista de sucessores inclui secretário do Tesouro dos EUA

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, disse em nota que sempre admirou ¿o comprometimento de Wolfowitz com a causa dos pobres¿. A Casa Branca fez o mesmo elogio, ao informar que o presidente americano, George W. Bush, anunciará em breve um novo candidato para substituir Wolfowitz. Os Estados Unidos têm a prerrogativa de indicar o presidente do Bird, enquanto os europeus ficam com a direção do FMI.

Um representante da Casa Branca, que não quis se identificar, afirmou que Bush escolherá um americano para a presidência do Bird:

¿ A tradição não vai mudar.

Entre os possíveis sucessores estão o ex-representante de Comércio dos EUA Robert Zoellick; o secretário do Tesouro, Henry Paulson; e Stanley Fischer, ex-funcionário do FMI, hoje no Banco de Israel.

Wolfowitz assumiu a presidência do Bird em junho de 2005, sob o estigma de ser um dos falcões da guerra no Iraque. Sua principal bandeira era a luta contra a corrupção nos países pobres, o que, segundo críticos, prejudicaria ainda mais a distribuição de ajuda.

Quando a promoção que Wolfowitz concedeu a sua namorada veio à tona ¿ Shaha Ali Riza foi transferida para o Departamento de Estado, com um salário acima da titular da pasta, Condoleezza Rice ¿, os críticos não hesitaram em apontar a hipocrisia do presidente do Bird. Organizações civis e até governos, principalmente europeus, passaram a pedir a renúncia de Wolfowitz.

Otaviano Canuto vai trocar o Bird pelo BID

Ontem foi acertada outra mudança no Bird. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ratificou por unanimidade a designação de Otaviano Canuto, atual diretor-executivo para o Brasil do Bird, como novo vice-presidente de Países, por três anos. Canuto, que assume o novo cargo em 1º de junho, já foi secretário de Assuntos Internacionais no Ministério da Fazenda e professor de Economia na USP e na Unicamp.