Título: Gautama está no Maranhão há sete anos
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 19/05/2007, O País, p. 4

Obra para fornecimento de água foi interrompida pela Justiça

SÃO LUÍS. A Gautama se instalou no Maranhão em 2000, no governo Roseana Sarney, atraída por uma obra de R$300 milhões para ampliar o projeto Italuís, que garante o fornecimento de água tratada para a capital. A obra foi dividida com a construtora baiana OAS e está parada desde 2005, devido a uma liminar da Justiça Federal, que suspendeu a transferência de recursos da União.

O juiz da 5 ª Vara Federal, Wellington Cláudio Pinho de Castro, deu sentença suspendendo a concorrência pública por várias irregularidades, incluindo superfaturamento, já detectado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O processo está em fase de recurso no Tribunal Regional Federal, em Brasília.

A Gautama também conseguiu faturar R$20 milhões, de 2001 a 2003, ainda sob o domínio da família Sarney no Maranhão. Nesse período, a empresa construiu um reservatório e fez a estrutura da estação de tratamento. A paralisação das obras deixou São Luís com problemas de abastecimento e, em alguns bairros da cidade, a água só chega à noite ou em dias alternados.

Os problemas com a Justiça não impediram que a Gautama continuasse prestando serviços ao estado. Em 2003, já no governo José Reinaldo Tavares - o ex-governador está preso desde anteontem -, a empresa venceu uma concorrência pública, no valor de R$154 milhões, para a construção de 119 pontes, também com suspeitas de superfaturamento. Pelo menos três pontes tiveram os recursos liberados, mas não foram construídas ou foram erguidas no meio do nada.

A Gautama conseguiu R$4,2 milhões antecipados para supostas obras realizadas nos municípios de Água Doce e Tutóia, nos Lençóis Maranhenses, antes mesmo da construção da BR-402. As pontes foram erguidas em terrenos particulares e estão fora do traçado da BR. Uma delas é sobre o Rio Barro Duro, ligando o povoado de Sobradinho, em Tutóia, ao povoado Jandira, no Piauí. Sem a existência da estrada, ela é uma construção de concreto no meio de uma pequena estrada de areia.

Por essa obra, o governo desembolsou R$1,5 milhão, antes mesmo de sua execução e com documentos da própria Secretaria de Infra-Estrutura atestando que o valor estaria superfaturado e que o preço, de acordo com a tabela do órgão, seria de R$ 915 mil. O depósito foi feito em 23 de dezembro de 2004 em uma conta no Banco do Brasil. O ex-governador José Reinaldo, segundo as investigações da PF, ganhou da Gautama um carro Citroën, no valor de R$110 mil.

No Piauí, o coordenador do Programa Luz para Todos no estado, Júlio Rodrigues, disse ontem que obras de eletrificação contratadas pela Companhia Energética do Piauí (Cepisa) passarão por uma devassa. O presidente da Cepisa, Jorge Targa, foi preso na Operação Navalha, acusado de agir - em conjunto com o ex-chefe de Gabinete do Ministério das Minas e Energia Ivo Almeida Costa e do funcionário do ministério Sérgio Luiz Pompeu de Sá - para que a obra fosse entregue para a Gautama após fraude no processo licitatório.

- O que tem que se fazer é uma investigação em todos os contratos que eram feitos pela Cepisa, que fez dois contratos com a Eletrobrás: um de R$18 milhões, para execução de obras de eletrificação rural por um pool de empresas, e outro de R$180 milhões para ligações de energia em 49 mil domicílios - disse.