Título: Jackson Lago liberou verba no mesmo dia em que teria recebido propina
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 19/05/2007, O País, p. 4

Publicada no DO no dia de reunião em Brasília, ordem teria beneficiado Gautama.

SÃO LUÍS. No mesmo dia 21 de março deste ano, data em que a Polícia Federal acusa o governador Jackson Lago (PDT) de ter recebido propina de R$240 mil da construtora Gautama durante reunião com representantes da empreiteira em Brasília, foi publicado no Diário Oficial do Maranhão o decreto 22.981, de 16 de março, que abriu crédito suplementar de R$11,5 milhões para a Secretaria de Infra-Estrutura do estado para a construção e a restauração de pontes. Como a Gautama foi a única vencedora da última licitação aberta para a construção de 119 pontes, os policiais dizem que foi a empreiteira que recebeu o dinheiro liberado por Jackson.

Segundo o relatório da PF, Jackson Lago, através de dois sobrinhos presos na Operação Navalha, teria recebido propina de R$240 mil para beneficiar a Gautama, segundo a PF.

A concorrência, de R$154 milhões, foi realizada ainda no governo de José Reinaldo Tavares, que foi preso anteontem pela Operação Navalha, da PF. O secretário estadual de Infra-Estrutura, Ney Barros Belo, que também foi preso, é acusado de ter desviado grande importância para a organização criminosa em 2006, quando determinou a elaboração de pareceres favoráveis às medições irregulares apresentadas pela Gautama.

Em entrevista por telefone, Jackson Lago não tocou no assunto, mas disse que deseja rigorosa apuração dos fatos e tentou jogar a responsabilidade para governos anteriores:

- Que haja justiça, que os culpados sejam punidos. E só assim o Maranhão poderá sair desse ambiente de pobreza, provocado por 40 anos de exploração do nosso povo por este grupo que concentrou poder e riqueza e que hoje fica pensando em se esconder atrás de ações da Justiça e da Polícia Federal.

Governador faz ameaças à família Sarney

Jackson Lago disse que há grandes interesses econômicos por trás de "muita coisa" e que nas próximas semanas vai revelar uma suposta negociata que teria sido feita , segundo ele, pelo grupo Sarney, e que será desfeita por seu governo.

- Aguardem - ameaçou.

Jackson Lago resolveu manter a sua agenda de trabalho, e ontem, ao meio-dia, embarcou em Brasília para a Argentina, onde participa de um encontro de governadores da América Latina. Ele retornará amanhã à noite e cumprirá agenda na segunda e terça-feira em Brasília, onde tem reuniões marcadas com a ministra Dilma Rousseff e com o presidente Lula para tratar das obras do PAC no Maranhão.

O governador determinou que sejam levantadas todas as obras realizadas pela Gautama no estado. Os deputados da base aliada de Jackson Lago na Assembléia Legislativa, liderados pelo chefe da Casa Civil, Aderson Lago (PSDB), reuniram-se ontem no Palácio Henrique de La Roque para definir uma estratégia de defesa do governador. Para defender Jackson Lago, eles acusam a família Sarney de armação e de tentar criar clima no estado para o caso de prosperar um recurso impetrado no TSE pela coligação de Roseana Sarney, derrotada nas eleições de 2006, contra a diplomação do pedetista.

- Eles temem uma reação contrária da população, e por isso criaram esse clima todo - alegou Aderson Lago.

Oposição ameaça pedir CPI para investigar

Mas a oposição ao governo Jackson Lago, liderada pelo deputado estadual Ricardo Murad, cunhado de Roseana Sarney, já preparou um pedido de CPI para investigar a atuação do governo José Reinaldo Tavares na liberação de recursos estaduais. O ex-governador é acusado por Murad de utilizar convênios do estado para eleger Jackson Lago, motivo da ação que corre no TSE contra a diplomação do atual governador.