Título: Teotônio e Jaques Wagner são citados em diálogos
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 19/05/2007, O País, p. 11

Dono da Gautama, em conversas com outros suspeitos sobre obras, se refere a governadores de Alagoas e da Bahia.

BRASÍLIA. Gravações da Polícia Federal mostram que integrantes da organização desbaratada na Operação Navalha fizeram referências aos governadores da Bahia, Jaques Wagner (PT), e de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), em conversas sobre obras da Gautama, empresa que está no centro do esquema de fraudes. Nos diálogos, os dois governadores são citados de forma cifrada por Zuleido Veras, dono da Gautama, e por Eneas de Alencastro Neto, chefe do escritório do governo de Alagoas em Brasília e também preso pela PF.

A citação ao governador de Alagoas aparece numa conversa entre Zuleido e Alencastro, às 10h34m de 30 de março deste ano. Os dois falam sobre a liberação de recursos para a barragem de Duas Bocas, no Rio Pratagy, uma obra de mais de R$50 milhões. Alencastro diz que sabe o que Zuleido quer.

"São dois assuntos objetivos, o primeiro é colocar o dinheiro na conta (do convênio Pratagy) e o outro assunto é o anel, a alça", diz Alencastro. Antes da resposta de Zuleido, ele diz "que vai para lá (Maceió) porque "ele" (Teo) vai quarta-feira tirar dez dias, na Semana Santa, e pediu para Eneas (Alencastro) ir no final de semana para conversar para, segunda-feira, detonar as coisas e sinalizar para Eneas avançar". Teo é o diminutivo com que Teotônio é tratado por amigos.

Nas conversas não está claro o que seria "detonar as coisas" e "avançar". Alencastro era, até o estouro do escândalo, o principal assessor de Teotônio em Brasília. Segundo relatório reservado da PF, no curso das negociações sobre o repasse de verbas para as obras de barragem no Pratagy, Zuleido pagou R$150 mil para Alencastro. Zuleido teria custeado uma passagem de avião de Alencastro a Brasília para que ele defendesse interesses da Gautama no governo federal.

Em outra conversa, com o filho Rodolpho Veras, Zuleido faz referência a uma reunião com "JW" que, para os investigadores, é uma referência a Jaques Wagner. Na conversa, às 13h26m, de 9 de maio de 2006, Zuleido diz que teve uma reunião a sós com Luiz Carlos Caetano (PT), prefeito de Camaçari, e, em seguida, faz referência a Wagner, que na época era pré-candidato ao governo da Bahia. "Eu tinha botado ontem essa reunião com JW. Então aconteceu hoje ao meio-dia. Tô saindo de lá agora", diz o empresário.

Wagner nega ter se encontrado com empresário

Num outro trecho, Zuleido fala sobre uma conversa que teve com Luiz Caetano. "Zuleido diz que ele (Caetano) sentou, aí eu disse: tenho duas coisas para falar com você, a primeira é que.... (inaudível) tá do nosso lado e quer resolver. E a segunda, eu até conversei com o Jaques".

Wagner disse ontem que conhece Zuleido, mas que não se encontrou com o empresário ou com o filho dele. E afirmou não ter recebido contribuição de campanha da Gautama e que a empresa não tem contratos com o governo do estado. Para ele, a menção a seu nome é para tirar o foco das investigações.

- O governador conhece Zuleido de vista. Mas não cultiva relações. A citação é casual - disse uma assessora de Wagner.