Título: Partido Socialista expulsa ministro de Sarkosy
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 19/05/2007, O Mundo, p. 37

Novo presidente faz nomeação eclética. Pela primeira vez, número de mulheres é quase igual ao de homens.

PARIS. O novo presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou ontem o nome dos 15 ministros de seu governo. Pela primeira vez na História francesa, as mulheres chegam ao topo do governo quase no mesmo número que os homens: são sete ministras, contra oito homens. Com isso a França se une a Chile, Finlândia, Espanha e Suécia na tentativa de dividir mais o poder político entre os sexos.

Sarkozy, na realidade, provocou uma revolução em vários sentidos. O socialista Bernard Kouchner, por ter aceito o convite para ser o ministro das Relações Exteriores ¿ um dos principais cargos da República ¿ vai ser expulso do Partido Socialista, anunciou o partido. Os socialistas, em crise de identidade, o acusam de traição.

Ontem, numa entrevista ao ¿Le Monde¿, Kouchner justificou sua decisão: ¿Quero continuar do lado dos oprimidos. Espero que os meus resultados expliquem a minha escolha¿.

Filha de magrebinos vai ocupar pasta da Justiça

Além de Kouchner, Sarkozy nomeou outros dois socialistas para secretarias de estado: Jean Pierre Jouyet, para Assuntos Europeus, e Eric Besson, para Avaliação de Políticas Públicas. O órgão encarregado de solidariedade contra a pobreza vai ser dirigido por Martin Kirsch, presidente da organização não-governamental Emmaus.

Esta foi, na realidade, uma revolução anunciada. Sarkozy nada mais fez do que cumprir uma promessa de campanha. Ele havia prometido enxugar a máquina do Estado, limitando o número de ministérios em 15. Anunciou ontem 15 ministros, isto é, metade do que existia no governo de Jacques Chirac. Prometeu também revolucionar a forma de fazer política na França, dando quase a metade dos postos para mulheres e nomeando personalidades independentemente de seus partidos ou convicções políticias. O novo governo foi anunciado um dia depois da nomeação do primeiro-ministro François Fillon, fiel a Sarkozy.

Há outro fato inédito neste governo. Pela primeira vez na história francesa uma filha de magrebinos assume um posto tão cotado na França: Rachida Dati, juíza de pai marroquino e mãe argelina e ex-porta-voz de Sarkozy durante a campanha, é a nova ministra da Justiça.

O novo governo também inclui centristas e outras pessoas de esquerda em postos menores. Herve Morin, do UDF, partido de centro, foi nomeado ministro da Defesa. O ex-premier Alain Juppé ¿ da era Chirac ¿ volta ao governo, depois de problemas com a Justiça, como o líder de um superministério que engloba Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Energia. Jean-Louis Borloo foi nomeado ministro da Economia, Finança e Emprego e terá a missão mais dura: reformas econômicas, inclusive na área trabalhista, o que vai inevitavelmente acabar em conflitos com sindicatos e manifestantes de rua. A ex-ministra da Defesa Michele Alliot-Marie, que teria ficado enciumada com a escolha de Kouchner para o Ministério das Relações Exteriores, ganhou o Ministério do Interior, ou seja, cargo de alta visibilidade que era antes ocupado por Sarkozy. Caberá à ela outra tarefa ingrata: lidar com as revoltas de rua.

Christine Lagarde, advogada que já era a pessoa responsável pelo comércio no governo Chirac, assume o Ministério da Agricultura, um cargo que o governo brasileiro acompanha de perto, já que a França é dos países-membros da União Européia que mais se opõem à abertura do mercado agrícola europeu, tão reivindicada pelo Brasil. Amigo de Sarkozy, Brice Hortefeux assume o ministério mais controverso: o da Imigração e da Identidade Nacional. Sarkozy quer limitar o número de imigrantes na França.

¿ O presidente quer fazer todas as reformas ao mesmo tempo, e não uma depois da outra ¿ anunciou a nova porta-voz do governo, Christine Albanel.

Entre as primeiras tarefas do governo estão a redução de impostos, a flexibilização da lei que limita o trabalho em 35 horas semanais e a criação de um esquema para assegurar o transporte no país em caso de greve.