Título: Hospitais da Cidade do México já têm filas
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Fonte: O Globo, 20/05/2007, O País, p. 10

Capital do país decidiu legalizar o aborto em abril.

WASHINGTON. Já existem filas de espera para aborto, com uma média de 25 pacientes, em todos os hospitais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, na Cidade do México. O procedimento se tornou legal no último dia 24 de abril, e é gratuito.

Para ser atendida, uma mulher tem de estar com gravidez de no máximo três meses, conforme a nova lei municipal que deflagrou uma polemica em todo o país. Ela só vale para a capital federal, mas, na prática, está à disposição de mexicanas de qualquer estado: basta que elas viajem até a Cidade do México.

As interessadas têm apenas de apresentar uma declaração, por escrito, dando o seu consentimento à intervenção médica. Os médicos, por sua vez, poderão se recusar a fazer abortos por razões de consciência, sejam elas éticas ou religiosas. Mas, nesse caso, eles terão de encaminhar as interessadas a outros colegas. No entanto, em casos em que a vida da mulher estiver em risco, o médico é obrigado a interromper sua gravidez.

Aprovação da lei intensificou debate no país

A aprovação da lei municipal mobilizou deputados e senadores a considerarem legislações semelhantes tanto nos estados como na área federal. Isso também fez com que aumentassem as pressões da Igreja Católica e dos grupos anti-aborto.

- Essa legalização apenas incentiva o sexo irresponsável, apóia a imprudência juvenil, e aumenta o índice de gravidez involuntária - reagiu Jorge Romero, do Partido Ação Nacional, do presidente Felipe Calderón.

O presidente evitou participar do debate. Disse apenas que era pela defesa da vida. Mas a primeira-dama, Margarita, participou efetivamente. Por sua vez, o arcebispo de Acapulco, Felipe Aguirre Franco, disse que os 46 vereadores que votaram pelo aborto (só 19 foram contra) deveriam ser automaticamente excomungados. Isso, porém, não foi confirmado pela Igreja. Um dos vereadores que aprovaram a lei ironizou:

- Em primeiro lugar, somos um Estado laico e, portanto, não se impõe crenças de qualquer religião. Além disso, há muitos padres com "sobrinhos" aí pelo interior do país - disse ele ao GLOBO.

Maria Consuelo Mejía, diretora do grupo Católicos pelo Direito de Decisão, disse que a lei do aborto foi uma vitória das mulheres - em especial das pobres, que tinham de se submeter a clínicas clandestinas e a parteiras. As ricas, disse ela, viajavam aos EUA para fazer um aborto em hospitais privados.

Segundo estatísticas do governo mexicano, pelo menos 110 mil mulheres buscavam alguém para fazer aborto ilegalmente no país. Em 2006, pelo menos 88 delas morreram em clínicas clandestinas.