Título: Polônia recusa proibição radical e entra em crise
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Fonte: O Globo, 20/05/2007, O País, p. 10

Governo defendia a proposta, e presidente do Parlamento renunciou.

BERLIM. Há poucas semanas, o Parlamento da Polônia recusou uma lei que previa uma proibição radical do aborto a partir do momento da fecundação, mesmo em casos de doença da mãe. A recusa causou uma crise no governo e a renúncia do presidente do Parlamento, Marek Jurek, mas foi aprovada pelas feministas e até pela primeira-dama do país, Maria Kaczynska, que havia afirmado poucos dias antes que a lei existente já era bastante para proteger ¿a vida não nascida¿.

A Polônia tem desde 1993 uma das mais rigorosas leis de aborto da Europa, comparável apenas à da Irlanda. O rigor dessa lei, introduzida poucos anos depois do fim do comunismo, explica também por que há enorme disparidade entre o número oficial e o real.

Oficialmente, são realizados todos os anos na Polônia de cem a 200 abortos. Na realidade, porém, os cálculos são de cerca de 200 mil. No país do Papa João Paulo II, são realizados ainda mais abortos do que no país do atual Papa, Bento XVI, a Alemanha (135 mil), que tem uma lei relativamente liberal e permite o aborto nas primeiras semanas de gravidez por indicação social (falta de condições materiais, sociais ou psíquicas da mãe).

A convicção católica, que é mais forte na Polônia do que no Brasil, faz com que as mulheres usem pouco os métodos anticoncepcionais, como a pílula. Apenas 8% das mulheres em idade de ter filhos usam a pílula. A esterilização é proibida, mas assim mesmo a taxa de natalidade é baixa, de apenas 1,24 criança por mulher.

Ministro quis proibir o homossexualismo

Na Polônia, o aborto é permitido por lei até a 12ª semana de gravidez, quando esta é resultado de estupro, incesto, quando significa risco de vida para a mãe ou quando o feto tem defeitos graves incuráveis.

Além de Jurek, um defensor da proibição radical do aborto era o ministro da Educação, Roman Giertych, presidente da Liga das Famílias Polonesas (LPR), que participa da coalizão de governo. Giertych tem chamado atenção nos últimos meses com o seu projeto de renovação moral da Polônia. Até o homossexualismo ele quis proibir, mas foi nisso barrado pela União Européia.

Para a escritora Manuela Gretkowska, de Varsóvia, a Polônia está se tornando cada vez mais conservadora e machista. Gretkowska acaba de fundar um partido das mulheres.

-- Nós pagamos tantos impostos quanto os homens mas não temos o direito de determinar nada ¿ diz ela.

Adam Michnik, ex-integrante do sindicato Solidariedade, o principal movimento de protestos durante o regime comunista, diz que o clima é de decepção.

¿ Hoje uma coalizão leva o país de novo à falta de liberdade ¿ disse.

Seu ex-colega sindical, o ex-presidente Lech Walesa tem apenas críticas para o seu sucessor Kaczynski:

¿ É um idiota.