Título: Perda de área verde é a maior preocupação
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 20/05/2007, O País, p. 13

Valor da obra e da contratação do projeto são contestados

RECIFE. A polêmica surgiu porque o projeto prevê a construção de um centro cultural e outras obras em concreto que originalmente ocupariam 62% do total da área, de acordo com o Clube de Engenharia de Pernambuco, e 65%, segundo a Associação de Amigos do Parque. Pela última informação divulgada pelo arquiteto Jair Varela, do escritório de Niemeyer, 40% do parque seriam destinados à área verde. Na última quarta-feira, o prefeito João Paulo deu outra informação.

- O projeto fechado só terá 20% de área impermeável (construída) - afirmou.

O arquiteto, no entanto, confirmou a construção de restaurante, galeria, centro cultural com teatro (com platéia interna para 500 pessoas e espaço para 20 mil em eventos externos). Segundo o presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, Alexandre Santos, os equipamentos previstos provocarão sobrecarga do sistema viário, e não haveria área suficiente para estacionamento:

- Parque é parque, e centro cultural é centro cultural. São dois conceitos diferentes.

O presidente da Associação de Amigos do Parque, Petrônio Martins, afirma que o modelo proposto pela prefeitura não induz à convivência por ser mais um centro cultural do que um parque.

Ministério Público fez audiência sobre o caso

Especialistas em engenharia e meio ambiente - como o próprio Alexandre Santos e o economista Clóvis Cavalcanti - questionam o custo do parque, de R$18 milhões (para a implantação), e o valor contratado sem licitação para a elaboração do projeto, R$1,902 milhão, segundo o próprio prefeito. Santos acusa a prefeitura de ter feito o projeto "de forma autoritária, sem escutar a população".

A polêmica motivou uma primeira audiência no Ministério Público, semana passada. O procurador Geraldo Margela está examinando o processo e já solicitou cópia de toda a documentação à prefeitura, para analisar se a competência do caso é do Ministério Público estadual ou do federal.

Para completar, os deputados federal Raul Jungmann (PPS-PE) e estadual Pedro Eurico de Barros (PSDB) vão propor a realização de plebiscito para que a população da zona sul decida o destino da área. Eles também estudam entrar com ação na Justiça contra a dispensa de licitação, defendida pela prefeitura devido ao "notório saber" do arquiteto.

Petrônio Martins teme que, com a realização de grandes eventos de massa, o Dona Lindu resulte em violência ainda maior no bairro de Boa Viagem, um dos mais visados por assaltantes na capital. Também afirma que o bairro perderá o sossego com engarrafamento nas ruas, caso seja mantida essa proposta.