Título: No lugar, o tempo parou no século 19
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 20/05/2007, Rio, p. 18

Ilhéus vivem da pesca artesanal, não têm energia elétrica e dependem da Marinha para tudo.

A maioria dos moradores da Ilha da Marambaia se sustenta com a pesca artesanal e vive como no século 19, sem luz (apenas três famílias têm geradores), nem atendimento médico, nem transporte regular, nem saneamento básico. A população depende da Marinha para tudo, até para recebimento de cestas básicas e de gelo, usado para preservar o pescado.

O Comando da Marinha diz que apesar de não ser sua função faz o que pode para atender aos moradores, espalhados por cinco praias. E criou até uma área de navegação restrita e de proteção à pesca, numa faixa de 500 metros ao redor da ilha, para impedir a entrada de pescadores de fora. Nos períodos de defeso, os moradores recebem auxílio em dinheiro.

Para os moradores, a falta de energia elétrica é um dos principais problemas. Durval Alves, de 53 anos, nasceu na ilha, assim como seus pais. Seus bisavós vieram da África e trabalharam como escravos na Marambaia. Ele é negro, mas tem os olhos esverdeados, dos ascendentes portugueses. Casado com Maria Celeste há 32 anos, tem sete filhos, mora na Praia Suja (só no nome), próximo à base dos fuzileiros. Só com lampiões e velas o casal gasta R$54 por mês. Quem tem geladeira a gás, gasta dois botijões por mês.

¿ Com a titularidade, não poderia vender meu terreno, mas poderia fazer melhorias e ampliar minha casa para meus filhos. Do jeito que está, não podemos fazer nada. A gente só conta com o Ensino Fundamental e os meus filhos mais velhos desistiram de continuar o Ensino Médio no continente porque ficava muito cansativo. Só contamos com o navio da Marinha, que sai de manhã cedo e volta no fim do dia ¿ reclama Durval, que se distrai com um rádio de pilha e uma TV a bateria.

A mãe de Durval, dona Inês, de 93 anos, ainda usa fogão a lenha. Ela trabalhou como cozinheira do presidente Getúlio Vargas.

A área da base e da vila militar, onde funciona a escola municipal, o minimercado e o entreposto de pesca, é a única que conta com o mínimo de infra-estrutura: o esgoto é tratado e o lixo, coletado em carroça e levado por um navio.