Título: Com Correa, união na ideologia
Autor:
Fonte: O Globo, 20/05/2007, O Mundo, p. 35

Do El Comercio

QUITO. A relação entre Equador e Venezuela tem história. Há quase 200 anos, o Equador - juntamente com Venezuela e Colômbia - foi parte da "Grande Colômbia" (1822-1830) e, ao iniciar sua vida republicana, seu primeiro presidente foi o general venezuelano Juan José Flores. A amante de Simón Bolívar ("A Libertadora do Libertador") foi Manuela Sáenz, natural de Quito. Também é de Quito o poderoso general aposentado René Vargas Pazzos - ex-chefe de Estado Maior do Exército equatoriano, admirado por Chávez e responsável pela aproximação entre o venezuelano e o atual presidente do Equador, Rafael Correa, quando Correa ainda nem era candidato. Hoje, Vargas Pazzos é embaixador do Equador na Venezuela.

Em apenas quatro meses de governo Correa, os dois países firmaram 12 acordos bilaterais, 10 deles no ramo petrolífero - mais do que qualquer governo equatoriano da história recente. Segundo analistas, os contratos podem gerar muita receita para os dois países. O Equador precisa da Venezuela para se desenvolver - especialmente sua indústria petrolífera - e a Venezuela necessita do Equador como um sócio vital para escoar sua enorme produção de petróleo rumo ao Pacífico e aos mercados sedentos da China e dos tigres asiáticos.

Mas Teodoro Bustamante, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), desconfia, como muitos neste país, da falta de clareza nesta série de projetos. Há um forte sentimento no Equador de que a aliança entre Correa e Chávez - que prega uma integração regional - possa, na verdade, estar servindo como pano de fundo para práticas populistas.

O governo do Equador também dá sinais dúbios sobre até que ponto vai sua ligação com o chavismo. No dia de sua posse, em janeiro, Correa empunhou uma réplica da espada usada por Simón Bolívar e disse: "O Equador é um país bolivariano e agora tem um presidente bolivariano!". Era observado por Chávez e olhava para ele como um fã olhava seu ídolo, observaram analistas na época.

Mas nos últimos meses muita água correu por debaixo desta ponte. Apesar de no plano político, ideológico e pessoal Correa ter afinidade e admiração por Chávez, a atual relação é mais igualitária.

- Correa equilibrou a balança - opina Pablo Andrade, da Universidade Andina.

O Equador deu provas de que não seguirá o chavismo incondicionalmente. Em meio à polêmica desatada por Venezuela e Cuba pela produção do etanol, o país firmou acordos com o Brasil nessa área. Correa e seus ministros constantemente pregam que Chávez é amigo do Equador como outros presidentes da região, que buscam só uma coisa: a integração da América Latina.