Título: Política externa ambiciosa, amparada no petróleo
Autor:
Fonte: O Globo, 20/05/2007, O Mundo, p. 35

Do El Nacional

CARACAS. Depois de realizar 225 visitas a dezenas de países e anunciar ajudas e convênios com vários governos no valor de US$5,5 bilhões, o presidente Hugo Chávez passou a trabalhar numa política externa agressiva em busca de apoio a seu projeto político, baseado no enfrentamento com os Estados Unidos e na integração dos "países do Sul."

Os analistas se dividem. Enquanto alguns afirmam que esta "petrodiplomacia" estaria gerando uma mini-guerra fria na América Latina, outros dizem que tais alianças promovidas por Caracas são apenas circunstanciais. Independentemente de quem está certo, muitos venezuelanos se perguntam qual é o custo para o país desta ambiciosa estratégia.

- É uma tarefa quase impossível saber quanto se gasta neste projeto. O problema é que a ajuda se articula por meio de contas secretas no exterior, e não passam pelo controle do Banco Central - afirma o economista José Guerra.

Segundo as diretrizes da chancelaria, a política externa venezuela se fundamenta na "diplomacia energética", que está criando uma institucionalidade alternativa à existente (novos acordos regionais, bancos e fundos). O petróleo, segundo o governo, permite ao país a possibilidade de negociação e cooperação a partir de uma visão de independência. Dois objetivos são prioritários: integração regional e multipolaridade, e ambos são mecanismos para enfrentar os Estados Unidos.

A analista internacional Elsa Cardozo afirma que é difícil medir a influência da Venezuela em cada ato político da região - como nas eleições de Bolívia, Nicarágua, Peru ou México - mas sem dúvida agora "Chávez alcançou uma visibilidade e uma audiência mundiais".

Outros impactos regionais da política exterior venezuelana, segundo ela, são a fragmentação de acordos como a Alca e o enfraquecimento da capacidade de negociação conjunta com os Estados Unidos ou a OMC.

- Depois de todos os investimentos econômicos feitos nas regiões, as únicas alianças, que por definição são temporárias e circunstanciais, foram feitas com os países mais vulneráveis institucionalmente, como Bolívia, Nicarágua e Equador. Brasil e Argentina são menos sujeitos e se movem de acordo com seus cálculos econômicos e geopolíticos - disse a pesquisadora.

O ministério das Relações Exteriores tem outra versão, e diz que em 2006 suas políticas de integração resultaram em mais de 200 acordos e na formação de uma rede internacional, social e governamental, solidária com a revolução bolivariana.