Título: Influência em expansão, com auxílio do governo cubano
Autor:
Fonte: O Globo, 20/05/2007, O Mundo, p. 36

Do El Universal

CIDADE DO MÉXICO. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, opera no México por meio de um programa social multimilionário - que já chegou à Cidade do México - e missões de solidariedade junto a influentes integrantes da esquerda mexicana. O ativismo, segundo fontes de inteligência, tem como objetivo impulsionar o México rumo à revolução bolivariana. Os projetos têm apoio ainda do governo de Cuba. São quatro eixos de ação: implementar a revolução antiimperialista, a revolução democrático-burguesa, a contra-revolução neoliberal e a pretensão de se chegar a uma sociedade "socialista do século XXI".

As relações diplomáticas entre México e Venezuela - embora embaixadores sejam mantidos - estão congeladas desde novembro de 2005, quando Chávez acusou o então presidente Vicente Fox de ser "um filhote do império (americano)". Os países chegaram a retirar seus representantes. Depois, dois diplomatas venezuelanos no México, amigos de Chávez, foram acusados de intervir na política interna ao manifestar seu apoio ao Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda, nas eleições presidenciais de 2006.

Na mesma época, o Ministério Público mexicano apreendeu milhões em armas e drogas provenientes da Venezuela. As investigações apontaram que altos comandantes militares venezuelanos, próximos a Chávez, participavam do esquema - cujo objetivo final era apoiar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Os bolivarianos mantiveram, no entanto, seu trabalho no território mexicano, com colaboração de Cuba. Os dois países mantêm, com grupos de esquerda mexicanos, a Missão Milagre, que já levou 335 mexicanos pobres para serem operados dos olhos na Venezuela e em Cuba.

Um ponto de tensão é a ameaça de Chávez de expropriar empresas mexicanas na Venezuela. A balança comercial é de US$3,3 bilhões anuais. As empresas mexicanas geram 15 mil empregos no país, com investimentos de US$3,286 bilhões. Mas três fábricas de cimento e 33 de concreto da empresa Cemex estão na mira de Hugo Chávez - que ameaçou estatizá-las se negassem a aumentar a oferta de seus produtos no mercado venezuelano.

- Temos visto com preocupação o projeto de populismo radical de Chávez ganhar terreno fora de suas fronteiras - diz Erick Porres, secretário executivo da Organização Democrata Cristã da América (ODCA).

Cuauhtémoc Dromundo, líder do Partido Popular Socialista do México, assinala, no entanto, que o movimento venezuelano coincide com muitos outros existentes atualmente em países da região, que buscam sua "segunda e definitiva independência, agora do imperialismo americano".

- A direita quer passar a idéia de que Chávez é um ditador e quer interferir na região. Mas há um projeto solidário entre muitos povos da América Latina, e nenhuma tentativa organizada e num nível mais amplo de interferência - pondera.

Levantamento ao qual o "El Universal" teve acesso mostrou que 25% dos líderes políticos mexicanos consideram a Venezuela um país amigo do México - número que é de 45% entre a população em geral.