Título: Depois de vários acordos, ligação com Uruguai se esfria
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Fonte: O Globo, 20/05/2007, O Mundo, p. 36

Do El Pais

MONTEVIDÉU. Apesar de um começo marcado pelo relacionamento estreito entre os governos de Tabaré Vázquez e Hugo Chávez, o Uruguai dá agora sinais de querer se distanciar do líder venezuelano. A aproximação com os Estados Unidos, o alinhamento regional com Brasil e Chile, suspeitas sobre supostas irregularidade em negócios com a Venezuela, e a postura de Chávez têm levado ao esfriamento das relações.

- Nos últimos meses temos observado condutas do governo uruguaio que o distancia dos propósitos da Venezuela de Chávez - disse o político e analista internacional Romeo Pérez, reitor do Centro Latino-Americano de Economia Humana.

No entanto, isso não freou a expansão venezuelana no Uruguai. Segundo uma reportagem do jornal "Brecha", de esquerda, os investimentos da Venezuela no Uruguai chegam a US$925 milhões, divididos em 78 acordos de cooperação. Estes acordos são, em maioria, voltados para o setor energético, especialmente o petróleo. Mas também há cooperação na agroindústria, na construção de casas pré-fabricadas, na reforma de hospitais, e até no desenvolvimento de Pueblo Bolívar, um pequeno povoado de 140 habitantes no município de Canelones, vizinho a Montevidéu.

O interesse de Chávez em investir no Uruguai se tornou notório desde o início do governo de Vázquez. No dia seguinte a sua posse, o presidente uruguaio firmou com Chávez em Montevidéu uma declaração conjunta em que manifestavam a intenção de criar mecanismos de troca de petróleo por alimentos, além da cooperação em várias áreas e a adesão do Uruguai à rede de TV Telesur.

O que ganha a Venezuela com os acordos com o Uruguai? Pelo que Chávez tem deixado transparecer, é mais importante para Caracas assegurar um aliado político na região do que penetrar no mercado uruguaio.

O petróleo venezuelano começou a chegar no Uruguai em 2005 em condições de pagamento muito vantajosas: 75% do valor devido em até 90 dias após o recebimento, e os 25% restantes em um prazo de 15 anos. Os contratos foram fechados com o barril contado a US$40 dólares, muito abaixo do preço cobrado no mercado internacional.

Se algo faltava a Chávez para ampliar ainda mais sua rede na Venezuela, era um banco. Isso, no entanto, conseguiu em 2006, com a abertura em Montevidéu de uma filial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bandes), que adquiriu ativos de uma ex-cooperativa uruguaia. Em oito meses de atividade, o Bandes-Uruguai registrou prejuízos e precisou de ajuda financeira de sua matriz em Caracas.

Apesar do esfriamento das relações, o governo uruguaio afirma que nada mudou nas relações com a Venezuela."Chávez me disse que está tudo bem com Vázquez", disse o ministro uruguaio, de Pecuária, Agricultura e Pesca, José Mujica, conhecido por manter estreitas relações com o presidente venezuelano.