Título: Democracia plena
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 21/05/2007, O Globo, p. 2

A despeito das acusações de autoritarismo feitas contra o governo Lula, o país vive um de seus períodos mais férteis de democracia. No primeiro mandato do presidente Lula, a polícia, a Justiça e o Congresso investigaram o esquema ilegal de financiamento eleitoral organizado pelo partido do governo, o PT. Agora, a Polícia Federal tornou público um esquema suprapartidário de corrupção.

As instituições democráticas funcionam, como em nenhuma outra época da História do país, e as investigações vão adiante doa a quem doer. A polícia pede à Justiça a prisão não apenas dos operadores das irregularidades, mas também de integrantes da elite política. Mais uma vez, neste escândalo, avaliam os líderes partidários, o financiamento das campanhas e o sistema eleitoral são colocados em xeque. Não faz um ano que o país saiu, aturdido, do escândalo do mensalão. Diante dos fatos revelados na Operação Navalha, palavras indignadas não passam de bravatas. A hora é de ação.

- O sistema eleitoral está falido. A reforma política é urgente. A investigação mostra também que o orçamento autorizativo se esgotou e que o governo federal não tem controle de nada. Houvesse critérios objetivos para a liberação de recursos, não haveria necessidade da intermediação política - resume o presidente do DEM (ex-PFL), deputado Rodrigo Maia (RJ).

Amanhã, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-RS), vai reunir os líderes partidários para tratar da votação da reforma política. Nos últimos dias, o vice-líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), costurou com representantes dos quatro grandes partidos (PT, PMDB, PSDB e DEM) uma proposta baseada em quatro pontos: financiamento público; votação em lista fechada; fidelidade partidária, com troca de partido apenas entre o 34º e o 36º mês de mandato; e a criação das federações de partidos.

Para o líder do PDT, deputado Miro Teixeira (RJ), a reforma política é urgente. Mas não a implantação do voto em lista, que, acredita, ampliará os problemas éticos atuais e consagrará a hegemonia do Poder Executivo sobre o Parlamento.

- Que reforma política é essa que pretende instituir o voto biônico? Os grandes partidos querem substituir o voto popular pelas burocracias partidárias. Quem vai fazer a lista? O Delúbio Soares no PT? O Valdemar Costa Neto no PR? O Roberto Jefferson no PTB? - critica Miro Teixeira.

O debate está começando e, desta vez, os líderes no Congresso avaliam que não basta punir os culpados e que é preciso reformar o sistema político.