Título: Gravações contradizem amigo de Delcídio
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 21/05/2007, O País, p. 4

Pedido de dinheiro a Zuleido para "pacote áereo" foi feito no dia do vôo.

BRASÍLIA. Gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial mostram que o dono da empresa Gautama, Zuleido Veras, comprometeu-se a pagar o aluguel de um avião usado pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) no próprio dia 4 de abril, quando o vôo foi realizado para levar o político ao enterro do sogro em Barretos (SP). Delcídio solicitou ao amigo Luiz Gonzaga Salomon que providenciasse o avião, e este, então, pediu a ajuda de Zuleido para pagar a despesa de R$24 mil.

Até ontem, Gonzaga Salomon apresentava a versão de que procurara Zuleido apenas no início de maio, quando o cheque que ele deu como garantia para o aluguel ia ser depositado. Mas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram que Gonzaga Salomon entrou em contato com o dono da Gautama assim que falou com o senador petista.

O nome de Delcídio apareceu no grampo que a PF fez no telefone de Zuleido. Segundo a PF, Gonzaga Salomon telefonou duas vezes para Zuleido, apresentando-se como "Zaga":

- Zuleido, deixa eu te fazer uma pergunta franca. Me ligou agora há pouco o senador Delcídio, que morreu o sogro dele, e ele precisa ir para Barreto (Barretos/SP). Estou movimentando aqui e ver se eu consigo um avião para ele. Você topa ajudar isso? - disse Salomon.

- Topo, sem dúvida. Pode mandar bala - respondeu Zuleido, que chama "Zaga" de "meu irmão".

Quase uma hora depois, Gonzaga Salomon volta a telefonar para Zuleido a fim de acertar a questão do preço. Às 11h29m, uma hora depois da primeira ligação, ele explica ao dono da Gautama que o serviço custará R$24 mil, porque Delcídio irá de Brasília a Barretos para o enterro e, de lá, para Campo Grande (MS), sua cidade. O empresário concorda.

Gonzaga Salomon havia dito ao GLOBO que só procurara Zuleido em maio, por "problemas de caixa" para quitar o cheque dado. O senador Delcídio disse que estava surpreso com sua citação nas investigações e repassou a responsabilidade ao amigo Gonzaga Salomon. E prometeu pagar agora a conta.

Após investigações na empresa de aviação Ícaro, que alugou o bimotor, a PF confirmou que o cheque era de Gonzaga e que a conta seria paga apenas em maio. E interrompeu as investigações por envolver um senador. "Após apurarmos a existência de indícios que apontam que o beneficiário do referido "pacote aéreo" foi o senador, por razões constitucionais interrompemos nossos trabalhos", diz o relatório da PF.