Título: PF: arquivo da Gautama identifica 40 deputados ligados ao esquema
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 21/05/2007, O País, p. 4

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Firma queria assegurar verba para futuras obras.

Lista da empreiteira inclui nomes de políticos, valor de emendas e presentes.

BRASÍLIA. Policiais federais identificaram o nome de pelo menos 40 deputados nos arquivos apreendidos em escritórios da Gautama, do empresário Zuleido Veras, apontado como chefe de um esquema de desvio de dinheiro público e de pagamento de propinas a políticos e servidores públicos. Os nomes desses parlamentares estão registrados em pastas ao lado de emendas de interesse da Gautama e valores em dinheiro ou indicações de presentes. Na primeira fase da Operação Navalha, um desses deputados foi filmado recebendo uma mala que, de acordo com a polícia, continha dinheiro. O nome dele não foi revelado.

- O material é farto e permitirá a documentação minuciosa do que fez e do que não fez cada parlamentar - disse um dos investigadores.

Gravatas de grife e ternos de presente a parlamentares

Segundo ele, as pastas indicam que os dirigentes da Gautama fizeram um acompanhamento minucioso de cada fase dos projetos da empresa financiados com dinheiro público. A companhia fazia a descrição sumária dos projetos com as anotações sobre emendas parlamentares apresentadas ao Orçamento da União para assegurar a destinação de verbas para as futuras obras. Como informações complementares, a empresa registrava os nomes dos parlamentares, alguns deles relacionados a valores e presentes, como carros, ternos e gravatas de grife.

A partir desta semana, a polícia fará um estudo para saber se os valores anotados correspondem a pagamento de propina. Para a polícia, o volume de informações é suficiente para descobrir se parlamentares apresentaram emendas para favorecer a Gautama, mesmo sabendo de possíveis irregularidades em algumas obras da empresa. A polícia suspeita que, em alguns casos, parlamentares teriam até influenciado o voto de colegas só para garantir mais recursos para a empresa. O esquema seguiria o mesmo modelo da máfia das ambulâncias, o escândalo que abalou o Congresso Nacional no ano passado.

A Controladoria-Geral da União decidiu investigar os contratos do governo federal com todas as empresas ligadas a Zuleido Veras e não apenas com a Gautama. Estão na mira dos auditores os consórcios Gautama-São Francisco, Gautama-Agreste, Gautama-Peter e Gautama-Rivoli. Também são investigados: Ecosama, Consórcio Xingu, EBF Participações, Patrimonial Cacimba, Focus Participações, Coselix Participações e Consórcio Andrade Gutierrez-Gautama.

Gautama fechou contratos avaliados em R$157 milhões

Levantamento da Controladoria-Geral mostra que, do ano 2000 até agora, só a Gautama firmou contratos diretos com órgãos federais para tocar obras orçadas em R$157 milhões. Com a inclusão dos contratos das outras empresas, a Controladoria entende que esses valores deverão ser ampliados significativamente. Os auditores vão fazer uma análise detalhada para saber se existem irregularidades nos contratos e na execução das obras e serviços dessas empresas, da mesma forma que já estão fazendo em relação à Gautama.

- Faremos uma análise completa, como foi feito no caso das ambulâncias - afirmou o ministro da Controladoria-Geral, Jorge Hage.